Liderança e psicopatia: O que podemos aprender sobre liderança com os políticos? (parte 2)
Depois de ler a primeira parte deste artigo sobre líderes psicopatas e o que podemos aprender aprender sobre liderança com os políticos e cenas lamentáveis como a que aconteceu entre Datena e Marçal, durante o debate da TV Cultura, você já entendeu o que é o que é psicopatia e como ela se manifesta na liderança. Talvez, agora esteja se perguntando se psicopatas são inevitáveis no poder, certo?
A resposta curta é sim, em muitos casos, líderes psicopatas ascendem ao poder devido ao próprio design das estruturas hierárquicas. O carisma e a falta de escrúpulos permitem que eles manipulem as pessoas e os processos para chegar ao topo. No entanto, isso não significa que estamos destinados a viver sob o comando de líderes assim.
Parte da solução está em reconhecer os sinais de alerta e criar sistemas organizacionais que impeçam que comportamentos abusivos sejam recompensados. Transparência, cultura de feedback e processos de promoção claros e éticos podem ajudar a mitigar o risco de líderes psicopatas tomarem o controle.
Então como podemos identificar um líder psicopata?
Se você já teve um chefe psicopata, vai com certeza se identificar com esse sentimento: imagine chegar ao trabalho e, desde o momento em que pisa na sala, você sente aquela sensação carregada, como se algo estivesse fora do lugar. Pode não ser um caos visível, mas existe uma atmosfera de tensão que parece pairar no ar. As decisões do seu líder parecem desconectadas das necessidades da equipe, e qualquer reação emocional ao comportamento dele é ignorada ou, pior, minimizada. Esse cenário pode ser um indício de que você está lidando com um líder psicopata.
Embora nem todos os líderes problemáticos sejam psicopatas, há sinais que podem ajudar a identificá-los. Ao observar certos comportamentos, é possível identificar esse tipo de personalidade no ambiente de trabalho. Aqui estão alguns sinais que você pode identificar:
Falta de empatia
Você já passou por um momento, quando tentou explicar uma situação delicada para seu líder — talvez uma crise familiar ou um desafio emocional que você estivesse enfrentando, e a resposta que recebe é sempre fria, distante, como se suas palavras não tivessem sequer sido ouvidas? Psicopatas têm dificuldade em se conectar com as emoções dos outros. Se o seu líder não demonstra nenhuma preocupação com o impacto emocional de suas decisões, esse é um grande sinal de alerta. O ambiente que ele cria é como um deserto emocional, onde as necessidades humanas são ignoradas em favor de metas impessoais.
Comportamento manipulador
Essas pessoas parecem estar alguns passos à frente, controlando os acontecimento e todos ao seu redor. Psicopatas são mestres em manipular situações e pessoas para alcançar seus próprios objetivos. Eles podem fazer promessas vazias, distorcer a verdade ou omitir informações, deixando os outros confusos e, por fim, culpados por falhas que nem mesmo causaram. É como tentar navegar em um labirinto, onde cada movimento seu é calculado por outra pessoa.
Necessidade de controle
Você já esteve em reuniões onde o seu líder domina cada aspecto da conversa, interrompendo qualquer opinião contrária e tomando decisões impulsivas, sem considerar as consequências? Para ele, o controle é uma obsessão. Psicopatas em cargos de liderança frequentemente tomam decisões radicais ou rápidas, apenas para garantir que estão no comando. As discussões que deveriam ser colaborativas se transformam em monólogos, onde o poder e a autoridade são os principais objetivos.
Ausência de culpa ou remorso
Lembre-se de uma situação em que alguém comete um erro grave e, em vez de admitir o problema, eles culpam outra pessoa, reescrevendo os fatos a seu favor. Psicopatas não experimentam remorso ou culpa como a maioria das pessoas. Ao cometerem erros, eles desviam a culpa, jogando a responsabilidade sobre os outros.
Lidando com líderes psicopatas: podemos nos defender? Sim, mas prepare-se
Lidar com este tipo de líder pode ser extremamente desafiador, pois eles frequentemente criam ambientes de trabalho altamente estressantes e desregulados emocionalmente. Uma das chaves para sobreviver e até prosperar nesses ambientes é aprender a gerenciar suas próprias emoções e evitar ser manipulado pelas táticas do líder psicopático.
Desenvolver controle emocional
Desenvolver controle emocional é uma habilidade essencial para lidar com líderes manipuladores ou pessoas tóxicas. Aqui estão algumas práticas que podem ajudar a manter o equilíbrio:
1. Autoconsciência
O primeiro passo é se tornar mais consciente de suas próprias emoções. Isso pode parecer óbvio, mas muitas vezes somos pegos de surpresa por nossas próprias reações. Reserve um tempo para observar como você se sente em diferentes situações e tente identificar os gatilhos que causam reações intensas.
2. Pausa estratégica
Em momentos de grande estresse, é fácil reagir impulsivamente. No entanto, fazer uma pausa, mesmo que seja por alguns segundos, pode ser uma ferramenta poderosa para evitar reações emocionais exageradas. Diga a si mesmo: “vou esperar um momento antes de responder”. Esse tempo adicional permite que você processe a situação de forma mais racional.
3. Técnicas de respiração
Quando as emoções estão fora de controle, técnicas simples de respiração podem ajudar a restabelecer o equilíbrio. Respire profundamente pelo nariz, conte até quatro, segure por mais quatro segundos e, em seguida, expire lentamente pela boca. Este exercício pode ser feito em qualquer lugar e ajuda a acalmar o sistema nervoso.
Se você quer fazer isso de forma prática e ter resultados em curto prazo, use esta prática, faça pelo menos 5 minutos por dia e lembre-se de usá-la sempre que sentir que precisa de um pouco mais de controle e foco.
4. Visualização
Uma técnica útil é visualizar uma situação neutra ou positiva antes de entrar em interações emocionalmente carregadas. Isso pode ajudar a reduzir a tensão e preparar sua mente para lidar com a situação de forma mais equilibrada.
5. Estabeleça limites
Estar sob a liderança de um psicopata muitas vezes significa lidar com manipulações constantes e situações emocionalmente desgastantes. Estabelecer limites claros, tanto físicos quanto emocionais, é crucial para preservar sua saúde mental. Aprender a dizer “não” de maneira firme e educada pode ser um passo importante.
6. Desconectar-se temporariamente
Quando o ambiente de trabalho se torna insuportável, tirar uma pausa, mesmo que curta, pode ser crucial. Se possível, faça pausas regulares para sair do espaço físico dominado pelo líder tóxico. Isso ajuda a recarregar suas energias e a obter uma nova perspectiva.
Resumindo… O caminho para a mudança
Se quisermos ambientes de trabalho saudáveis e sociedades mais justas, precisamos urgentemente de um novo modelo de liderança. O paradigma atual, que muitas vezes recompensa líderes agressivos e manipuladores, pode até gerar resultados rápidos, mas é prejudicial a longo prazo, tanto para o bem-estar emocional das equipes quanto para o sucesso sustentável das organizações. Estudos mostram que a liderança empática, que valoriza o respeito e a compreensão, promove ambientes mais produtivos e colaborativos, além de reduzir a rotatividade de funcionários.
A empatia não é apenas uma habilidade “suave”, mas uma ferramenta poderosa que constrói confiança e abre espaço para a inovação e o diálogo. Repensar a maneira como selecionamos e promovemos líderes, priorizando não apenas habilidades técnicas, mas também qualidades interpessoais, é o primeiro passo para essa transformação.
No final, o tipo de liderança que aceitamos define a cultura em que vivemos. Podemos escolher líderes que inspiram com empatia e respeito, ou continuar aceitando a agressividade como norma. A decisão está em nossas mãos e moldará o futuro das nossas relações e organizações.
Por Charles Betito, Especialista em Saúde Mental Corporativa | Consultor de Treinamento e Desenvolvimento. Com mais de 20 anos de experiência em meditação e práticas de atenção plena, adquiriu habilidades em tecnologia e inovação por meio de treinamento avançado em instituições de renome como o MIT, Singularity University e o Institute for The Future.
🎧 No episódio 168 do RHPraVocê Cast, mergulhamos na discussão sobre a presença das emoções no ambiente corporativo. Por que esse tema é tão espinhoso? E como as emoções afetam o engajamento, a produtividade e as finanças das empresas?
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Falar sobre emoções no escritório é como navegar por um território delicado. Afinal, a felicidade, a tristeza e outras emoções permeiam cada aspecto da jornada profissional. Mas como lidar com elas de forma construtiva?
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Entrevista com Especialistas
Neste episódio, convidamos duas especialistas da Coppead/UFRJ: Paula Chimenti, Professora e Coordenadora do Centro de Estudos em Estratégia e Inovação, e Fernanda Souza, doutoranda e pesquisadora. Assim elas compartilham insights valiosos sobre como abordar o tema das emoções nas organizações.
Confira o episódio completo. Em suma, descubra como a gestão emocional pode ser um diferencial competitivo para as empresas!
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