Muitas perguntas sobre os efeitos da inteligência generativa
E poucas sobre o pouco espaço que demos à inteligência humana. Um dos temas mais discutidos no momento no mundo do trabalho são os efeitos da inteligência generativa. Isso me conforta em parte, porque como dizia Descartes, “a dúvida é a origem da sabedoria“.
Em uma entrevista recente, Mustafa Suleyman, que lidera os desenvolvimentos de inteligência artificial na Microsoft, também expressou dúvidas sobre nossa capacidade de contê-la. Devo dizer que prefiro pessoas que expressam incerteza verdadeira do que aquelas que expressam falsa segurança.
A certeza no conhecimento
Hoje, a certeza no conhecimento é um dos enganos dos quais precisamos sair. Em alguns aspectos, conhecemos por exploração. Compreendemos apenas durante a jornada. Isso também se aplica às tecnologias digitais. Por exemplo, não para alimentar o alarmismo, estamos ainda no início da compreensão dos efeitos negativos de uma geração baseada em celulares e, em particular, em redes sociais.
Mas a ascensão da inteligência artificial generativa também nos interroga não apenas sobre o futuro, mas sobre o passado que realizamos, quando tivemos à disposição tanta inteligência humana, que teoricamente e potencialmente deveria ter sido ainda mais generativa.
Não quero condenar todo o gerenciamento científico, mas devemos avaliar as condições nas quais o fizemos nascer e como o fizemos crescer.
O gerenciamento científico
O berço do gerenciamento científico foi a linha de produção. Claro, é uma boa ambição produzir em grande escala um produto para chegar ao maior número possível de pessoas. Mas vamos analisar como chegamos lá: padrões, homologação, fragmentação do trabalho e separação das pessoas. Uma empresa fundada na falta de confiança.
Empregadores que não confiavam nos trabalhadores, e em correspondência, trabalhadores que não confiavam nos empregadores.
Pessoas que viviam como engrenagens, todas úteis, mas nenhuma indispensável (e ainda dizemos isso!).
A inteligência é múltipla
O que fizemos com essas inteligências? Aliás, primeiro Howard Gardner, depois Daniel Goleman, nos lembraram que a inteligência é múltipla. E a generatividade nasce justamente do encontro dessas mentes.
Sou um entusiasta das práticas organizacionais, e uma que me fascina, no âmbito da aprendizagem organizacional, se desenvolveu dentro da Pixar: o brain trust. Isso me faz pensar na confiança no encontro de várias mentes, de várias pessoas.
Quando mais pessoas se encontram com confiança mútua, um objetivo compartilhado e uma busca aberta e sincera, coisas extraordinárias acontecem, frequentemente superando as próprias expectativas, pois vão além do previsível.
Falar pouco sobre conversas generativas humanas?
Uma vez, eu precisava preparar um webinar junto com um especialista em tecnologias digitais. Eu disse a ele: “Gostaria de falar sobre conversas generativas“. Ele respondeu: “Ah, claro… chatgpt“. Eu entendi: falamos tão pouco sobre conversas generativas humanas. É normal que as subestimemos e pratiquemos pouco.
Então, talvez em paralelo às perguntas compartilháveis e importantes sobre como ter um desenvolvimento sustentável das tecnologias digitais e da inteligência artificial, devemos mudar a abordagem. Devemos dar o mesmo peso a fazer perguntas, discutir e agir de maneira diferente. Além disso, precisamos dar amplo espaço à inteligência humana gerativa. Não fizemos isso até agora.
Quais são os desafios?
1. Redescobrir o trabalho como expressão pessoal
A nova geração no trabalho nos pede isso fortemente. Talvez estejamos em transição, e a resposta que muitos deles estão dando, o chamado “job hopping”, não seja a melhor, pois pode estar relacionada a uma capacidade de espera, sacrifício e paciência que deveria ser mais praticada.
Mas é uma geração que viu pessoas se identificarem com seus cargos, vestirem-se todas iguais e ficarem paradas em caixas organizacionais respondendo a padrões e esquemas homologados. A organização deve ser uma ferramenta para trazer o valor das pessoas ao trabalho, não para bloqueá-lo.
Ajudamos as pessoas a interpretar seu papel na organização como se fosse um roteiro para um ator. Viva também um pouco de espaço para uma improvisação pessoal. Que sentido faz que nesse papel esteja eu, único e irrepetível?
A jornada que chamamos de trabalho deve ser a revelação de uma obra-prima única, não a correspondência a uma imagem padrão.
Uma prática entre outras?
O job crafting: oferecer às pessoas um espaço para “modelar seu próprio trabalho”.
2. Redescobrir a empresa como uma comunidade de pessoas
Chamamos as pessoas que trabalham de empregados. Que maneira horrível de definir a relação das pessoas com a empresa. Mas certamente não podemos construir empresas com um conjunto de pessoas totalmente independentes.
Renovemos a consciência sobre os laços de reciprocidade. Em todas as pessoas vive uma motivação pró-social: desejamos levar algo bom para a vida das pessoas ao nosso redor e cooperar com os outros por algo que nos transcende, que em parte nos pertence e a que em parte sentimos que pertencemos.
Fala-se tanto do desafio de RH de atração e retenção. Redescubramos o fator de atração que tem viver uma comunidade de pessoas. E sobre retenção, certa vez um empresário que muito estimo me disse: “Na verdade, não quero reter ninguém”.
Efetivamente, o compromisso com o engajamento basta e sobra. E isso deve ser redescoberto como uma responsabilidade compartilhada: cada um de nós é sempre um engajador ou… desengajador. Depende da qualidade dos nossos encontros, conversas e relacionamentos.
3. Redescobrir que todos os dias, através do trabalho e da empresa, temos um impacto
É louvável quem encontra tempo para fazer voluntariado, com o desejo de fazer a diferença e deixar uma marca positiva. Porém, por mais que possamos encontrar tempo, isso nunca poderá compensar o que dedicamos ao trabalho profissional, com as competências, energias e conexões que investimos nele.
Devemos redescobrir o profundo sentido do trabalho e da empresa, através dos quais sempre fazemos a diferença, começando pelas pequenas coisas:
- cumprimentar cada pessoa, com maior atenção àquelas que têm menos poder,
- saber perguntar como está a pessoa para realmente saber como ela está e não para imediatamente seguir com instruções e outras demandas, sacrificar-nos às vezes para ajudar outros sem obter nada em troca, exceto um vínculo de reciprocidade.
A prática que pode nos ajudar em todos esses desafios é a das conversas generativas.
Encontrar-nos suspendendo temporariamente os julgamentos que temos em mente, ouvir com total atenção (e com smartphones, computadores e aplicativos a uma distância segura…), abrir-nos juntos para deixar chegar algo novo.
Conversar: virar-nos juntos para algo que não existia antes de nos encontrarmos e que agora existe, justamente porque nos encontramos. Com confiança, sinceridade e abertura.
Tentar para crer.
Por Francesco Limone, Professor of Leadership & Communityship 24ORE Business School. Artigo publicado originalmente em 2024 na HR ONLine da AIDP – ‘Associazione Italiana per la Direzione del Personale‘.
🎧 No episódio 186 do RH Pra Você Cast, exploramos o impacto das inteligências artificiais (IAs) no desenvolvimento de carreiras e pessoas. Embora seja comum “vilanizar” as IAs e enfatizar seus pontos negativos, é essencial reconhecer seu potencial positivo.
O Medo da Ascensão das IAs
- Percepção Negativa: Pesquisas frequentemente revelam o medo dos trabalhadores em relação à ascensão das IAs. Por isso essa apreensão contribui para a complexa relação entre “pessoas x tecnologia”.
IA como Facilitadora e Diferencial
- Além da Rotina: Quando bem utilizada, a IA não é apenas uma facilitadora de rotina. Assim ela pode ser um diferencial significativo no desenvolvimento profissional.
- Entrevista com Guilherme Luz: O CEO da Galena, Guilherme Luz, compartilha insights sobre como a IA humaniza processos e impulsiona o crescimento.
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