Home office, como reagir à pressão e qual o verdadeiro papel da empresa: Um funcionário de 62 anos pede à Justiça para voltar a trabalhar de forma presencial; as empresas têm um papel muito importante neste momento, devendo se engajar no apoio a colaboradores em home office

Julho, 2021 – Em plena pandemia, em um momento teoricamente de solidificação do modelo híbrido de trabalho, um caso bastante inusitado chamou a atenção nos últimos dias: um engenheiro da Caixa Econômica Federal, com 62 anos de idade, ingressou com uma ação na Justiça do Trabalho pedindo para voltar às atividades de forma presencial. Em sua ação, o engenheiro alega que o distanciamento das atividades presenciais lhe trouxe problemas de depressão e, ainda, problemas ergonômicos. Justificou, também, que seu pedido era razoável, pois já havia contraído Covid-19.

O pedido foi negado pela Justiça do Trabalho de Fortaleza, que entendeu que a empresa deve zelar pela segurança de todos os funcionários e está cumprindo os protocolos ao manter em casa um trabalhador do grupo de risco. A decisão apontou também que, ainda que o colaborador assuma os riscos, o retorno às atividades presenciais não poderia ser aceito, uma vez que o direito à vida é indisponível nos termos previstos na Constituição Federal de 1988 e nas normas internacionais de direitos humanos.

No mais, é importante destacar que, já há algum tempo, as empresas, juntamente aos seus departamentos jurídico e de recursos humanos (RH), discutem a possibilidade de contratação no sistema exclusivo home office ou a manutenção dos contratos de trabalho que migraram recentemente para o referido sistema em virtude da Covid-19.

Essa discussão, ao longo da pandemia, foi tomando forma e ganhando força à medida em que os resultados positivos das empresas foram surgindo, sinalizando a produtividade à distância de seus colaboradores.

Tendo em vista os últimos pareceres, sabemos que se trata de uma novidade no universo jurídico. Houve pouco tempo para entendermos essa transição das empresas e empregadores no tocante ao sistema híbrido de trabalho ou, ainda, ao home office integral.

No momento, cerca de 7,3 milhões de trabalhadores atuam em sistema home office com a finalidade de minimizar os riscos de contágio pelo coranavírus, e o grande número de relatos de pessoas que estão sofrendo desgastes físicos e mentais resultam em uma inevitável análise sobre o tema.

Assim, quando falamos em home office, parece que estamos falando sobre um cenário repleto de conforto psicológico e físico. Mas a realidade tem sido bem diferente. Ocorre que tal modelo de trabalho, antes da pandemia, era utilizado por uma minoria.

Hoje, com toda a transição vivenciada em tempos difíceis, as empresas de praticamente todos os setores se viram obrigadas a migrar suas atividades para o sistema híbrido ou para o home office. E esta adaptação trouxe alguns desafios às empresas, principalmente o de equilibrar o tempo em que os funcionários estão conectados e a necessidade de se monitorar o descanso.

Isso porque as queixas dos colaboradores têm sido recorrentes quanto à pressão exercida pela cobrança de resultados e, concomitantemente, o constante uso de aplicativos e plataformas usados para reuniões e o número de telas abertas torna ainda mais exaustiva a jornada.

Pensando nestas problemáticas, grandes empresas, como a farmacêutica Sanofi e a Unilever, por exemplo, já trouxeram formas de minimizar o caos psicológico, que inclui: definição de etiquetas das reuniões em vídeo, orientação quanto aos horários mais apropriados para a realização das chamadas, pausas ou dias sem reuniões, ginástica laboral virtual, boletins diários da empresa que incentivam os momentos de desconexão com dicas de livros, receitas e atividades que possam ser feitas ao ar livre, dentre outras medidas.

E não é só isso. Além da fadiga mental acometida pela pressão e excesso de conexão, outro fator tem trazido a depressão no rol de queixas do home office: a ausência de relações interpessoais em um ambiente profissional.

O que para muitas pessoas pode ser um grande alívio ao conviver apenas com os familiares, para outras, o próprio lar não é um ambiente tão saudável psicologicamente e até mesmo fisicamente. Para estes, a ausência de infraestrutura ergonômica e da rotina diária de chegar a um ambiente corporativo, encontrar colegas, conversar e poder tomar um cafezinho nas pausas, tornou-se algo desastroso. Agora, estas pessoas lidam apenas com atribuição de tarefas diárias, números, prazos e cobranças, sem o contato humano e, muitas vezes, não se sentem mais parte dos projetos da empresa ou da equipe.

Este é o momento em que as plataformas e reuniões on-line podem ser aliadas, para que os gestores se aproximem das equipes e relatem informações sobre a empresa, os próximos projetos, a importância de todos na construção de um objetivo e, ainda mais importante, deixar um canal aberto para que os colaboradores se sintam à vontade em trazer suas dificuldades.

Quanto ao retorno às atividades presenciais, tendo em vista a negativa do pedido do funcionário, é dever do empregador preservar e zelar pela saúde e integridade física do trabalhador, tendo em vista que a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho são os princípios elevados a direitos fundamentais pela Constituição Federal de 1988.

Estamos presenciando e vivendo o direito coletivo se sobrepondo ao direito individual.

A situação é frágil, os debates inéditos e as soluções têm que vir de cima para baixo, juntamente a estudos comportamentais, apoio e empatia. Cabe a gestores e líderes monitorar sinais, ações, atitudes e desempenho dos colaboradores no intuito de prevenir problemas. A partir da transição global que vivemos, a adaptação, o diálogo e o bom senso deverão prevalecer acima de tudo.

Home office e como reagir à pressão

Por Mirella Pedrol Franco, advogada e coordenadora da Área Trabalhista no Granito, Boneli e Andery Advogados (GBA Advogados Associados).

 

 

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