A cada dia, a arte tem ocupado um papel mais importante no universo das organizações.
As escolas de gestão e negócios estão desenvolvendo concepções metodológicas de novas formas de aprendizagem nas quais a arte surge como um elemento inovador.
Alguns estudiosos têm explorado esse universo, como James G. March (Stanford) que trabalha a “Ideia como Arte” e Joseph Badaracco Jr. que tem utilizado a literatura de Sófocles e Shakespeare.
Ambos criaram ambientes conversacionais sobre a temática da liderança, do poder, da gestão e da confiança, fazendo paralelos em introspecções produtivas sobre a Arte da Gestão nas empresas.
Já Henry Mintzberg (McGill University-Canadá) tem incentivado os executivos a novas disposições mentais que incluem reflexão, análise e contemplação. Muito se tem falado sobre as experiências do High Concept, como a capacidade de ver novas oportunidades, criar beleza artística e emocional.
Trata-se de ir além do superficial e construir narrativas de sentido, produzir diários de bordo em busca de novas experiências que nos deem mais competência para trabalhar nesta era da repetição e da falta do novo.
Sabemos que o arcabouço conceitual disponível, ainda assentado na modernidade, perdeu sua capacidade de criar campos de significação.
É preciso “re-inventar” novas formas de encantar o mundo!
A arte não seria, portanto, um novo agregador de valor ao trabalho?
Não há aqui uma coincidência entre a era conceitual na arte e no trabalho?
O que se busca hoje nas organizações, é a expressão da subjetividade como fator de produção, atestando de forma “concreta” que jamais podemos, em nenhuma atividade humana, excluir a subjetividade e a intersubjetividade, pois toda obra humana se destina a ser reconhecida (pelo outro).
Sendo assim, quais são os novos dispositivos criativos que precisamos colocar em cena para, efetivamente, fazer a “arte da gestão humana no trabalho”?
O que a relatividade do olhar tem a ver com antecipar novos produtos, criar um novo olhar/nicho de mercado?
Sabemos historicamente que a indústria cultural transformou o feio em belo, como no Campbel Soup, de Andy Warhol. Vemos aí implicações concretas para a nascente disciplina de marketing: a indústria casa com a arte.
O caminho está aberto. A arte e as empresas compartilham hoje a mesma questão que se coloca para o mundo contemporâneo – desafiar classificações e antecipar tendências para sobreviver no aguerrido “Senhor Mercado”.
As tendências indicam uma mudança de temporalidade no espaço da gestão, evocando uma “liderança com arte”.
Podemos conceber a Arte da Gestão como um tipo distinto de savoir-faire (saber fazer) que não pode ser dissociado de um savoir-vivre (saber viver).
Saber viver com arte ainda é o grande exercício da liderança e por meio do qual obtemos o reconhecimento social.
Chamaremos de um opus técnico, estético e ético, o “bem realizar” do trabalho humano. Esta não seria a verdadeira estrada real se o ouro contemporâneo é o conhecimento?
Afinal, o estético também pode (e, muitas vezes, deve) ser ao mesmo tempo, útil e belo. Aqui pensamos a gestão como uma realização humana, compartilhada de forma indissociável nas dimensões técnica, ética e estética da atividade de trabalho.
Na nossa experiência de aprendizagem e conhecimento, em que tentamos transversalizar a Arte pela Gestão, podemos citar algumas iniciativas ensaiadas com êxito: o Museu Interior, na sede do Banco Itaú em São Paulo; a Casa do Saber, no Banco Real em São Paulo; o Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte; e o Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG).
Na Fundação Dom Cabral, realizamos o Varal de Ideias, associando à arte, a linha do tempo dos acontecimentos empreendidos pela humanidade.
Nessa mesma perspectiva, as escolas de gestão deveriam construir e sistematizar experiências retratadas pela arte, estabelecendo hipóteses de co-relação que serviriam de cases para o mundo empresarial.
Devemos nos interrogar como humanidade – se é principalmente no mundo do trabalho que procuramos transmitir significados e valores, por que ainda não fomos capazes de produzir mais experiências estéticas, se o belo é um bem social?
Por Ricardo Carvalho, professor e pesquisador em antropologia social, arte e gestão, gestão de pessoas, cultura organizacional, cultura brasileira, comportamento organizacional e liderança na Fundação Dom Cabral. É pós-doutorado em Gestão pela Reims Business School (França), Ph.D. em Sociologia das Mutações pela Université de Paris VII (França), mestre em Psicologia Social e Clínica pelo Conservatoire National des Artes et Métiers (França) e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil). Leciona em programas de mestrado, especialização e customizados na FDC. É membro do CRITEOS da HEC Montreal (Canadá) e autor de livros, artigos técnicos e científicos, publicados no Brasil e no exterior.
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Capa: Deposithphotos