Nos últimos anos, o debate sobre o perfil do profissional do futuro girou em torno da valorização do generalista. Em 2024, Ian Beacraft conduziu uma das palestras mais comentadas no SXSW, The One Billion Dollar Company, ao mostrar como criativos generalistas capazes de dominar diferentes ferramentas poderiam gerar vantagens competitivas em escala bilionária. A IA deixou de ser apenas uma ferramenta e passou a ser um amplificador estratégico da versatilidade humana
Essa narrativa ganhou força ao propor que a adaptabilidade, mais do que o conhecimento profundo em uma única área, seria o maior trunfo em um mundo em constante transformação e repleto de novas tecnologias.
IA como parceira estratégica das competências humanas
No entanto, no SXSW 2025, uma perspectiva diferente emergiu e trouxe novos elementos para essa discussão. No painel AI Agents and the Future of Human Collaboration, Nickle LaMoreaux, CHRO da IBM, destacou o papel crescente dos agentes de inteligência artificial. Diferentemente de soluções isoladas, esses agentes já atuam como orquestradores de múltiplas ferramentas. Com isso, conseguem otimizar tarefas rotineiras, conectar sistemas e servir como interface direta entre humanos e tecnologia.
Para Nickle, nesse cenário, três competências humanas tornam-se ainda mais críticas para os próximos anos:
- Domain Expertise: conhecimento profundo e especializado;
- Judgment & Communication Skills: capacidade de julgamento aliado a uma comunicação clara e assertiva;
- Creative Collaboration: colaboração criativa.
Essas competências ao invés de perderem relevância, tem o potencial de serem ampliadas pelos agentes de IA. Os profissionais devem aprender a trabalhar lado a lado com os agentes, utilizando-os como parceiros para liberar tempo, aumentar a precisão e expandir a capacidade criativa. Como destacou Nickle, saber colaborar com agentes será cada vez mais mandatório em qualquer trajetória profissional.
IA como parceira cognitiva e motor de transformação organizacional
Essa reflexão dialoga com o recém-lançado livro Cointeligência, de Ethan Mollick, professor associado da Wharton School da Universidade da Pensilvânia. O autor defende que, para o futuro com a IA, continuaremos a precisar de cidadãos instruídos, com domínio de habilidades fundamentais. Além disso, será essencial que cada indivíduo tenha capacidade de escolher áreas de especialização com discernimento estratégico.
Nessa perspectiva, a IA não assume o lugar do pensamento humano, mas se torna parceira cognitiva, preenchendo lacunas e ampliando o alcance das nossas capacidades.
Mollick vai além ao afirmar que, pelo menos por enquanto, a melhor forma de uma organização se beneficiar da IA é apoiar-se nos usuários mais avançados: aqueles que exploram ativamente o potencial da tecnologia, enquanto incentiva gradualmente mais colaboradores a adotar esse uso.
Para ele, isso exige uma mudança significativa na forma como as empresas funcionam, já que os profissionais capazes de tirar o máximo da IA podem estar em qualquer nível da organização, com qualquer histórico ou desempenho anterior.
Do Centauro ao Ciborgue: a jornada da IA nas empresas
Esse alerta reforça um ponto essencial: a IA não substitui o humano, mas exige novas formas de aprendizagem, liderança e cultura organizacional. O caminho sugerido por Mollick começa com o estágio de Centauro, em que delegamos à IA tarefas simples e verificáveis.
A partir daí, evoluímos para o estágio de Ciborgue, no qual a tecnologia se torna indispensável em atividades complexas. Por fim, esse percurso configura um roteiro de transição que conecta inovação ao cotidiano de equipes e empresas.
Se em 2024 o generalista foi apresentado como símbolo do profissional do futuro, em 2025 emergirá uma nova síntese: o especialista ampliado pela IA. Não se trata de abandonar a versatilidade ou o olhar transversal.
Pelo contrário, é preciso compreender que o verdadeiro diferencial estará na interseção entre expertise, julgamento humano e colaboração criativa — todos potencializados pela co-inteligência com a tecnologia.
Assim, a IA deixa de ser apenas promessa para se consolidar como prática organizacional capaz de redesenhar a forma como empresas inovam, aprendem e competem em escala global.

Por Simone Gasperin, Sócia & Head de Marketing e Growth da BPool, plataforma que atua globalmente na transformação das contratações e pagamentos de serviços de marketing. Com presença em mais de 10 países, é conectada a um ecossistema de mais de 1.500 parceiros e 4500 freelancers. Atende a mais de 70 marcas de clientes como L'Oréal, Reckitt, Akzonobel, Unilever, Vivo, Novartis, Pinterest e Pernod Ricard.
🎧 Ouça o episódio 215 do podcast RH Pra Você Cast:
"Florescimento humano: o RH pode 'ir além' no desenvolvimento de pessoas?"
O papel estratégico do RH no desenvolvimento de pessoas
O papel do RH e das lideranças vai além da gestão de processos. Ele é essencial no desenvolvimento de talentos e na construção de culturas sustentáveis.
Muitas empresas ainda concentram seus esforços apenas nas habilidades que atendem às demandas do negócio. No entanto, essa visão limita o crescimento das pessoas e da própria organização.
Focar apenas no curto prazo pode comprometer a inovação, o engajamento e a retenção de talentos. É por isso que surge uma pergunta importante: e se o desenvolvimento humano for, também, uma estratégia de crescimento competitivo?
Mais do que capacitar: fomentar o florescimento humano
Neste contexto, entra em cena o conceito de florescimento humano. Ou seja, mais do que desenvolver habilidades técnicas para liderar, trata-se, sobretudo, de criar espaços nos quais as pessoas possam prosperar. Por conseguinte, é fundamental que esse desenvolvimento aconteça em equilíbrio com os objetivos da organização. Afinal, somente quando os interesses individuais e coletivos caminham lado a lado, é possível construir ambientes saudáveis e produtivos.
Batemos um papo com Vanessa Custódio, especialista em desenvolvimento humano, ESG e saúde mental, que destacou a importância dessa abordagem para empresas que desejam evoluir de forma sustentável, consciente e aprender a liderar com propósito.
Afinal, marcas fortes são feitas por pessoas que florescem. Não deixe de ouvir o episódio completo!
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