Recentemente um seguidor me perguntou no Instagram se eu concordava com ele sobre a noção de prosperidade para muitos brasileiros. O comentário dizia que “ter sucesso no Brasil era quase como cometer um crime”. Infelizmente eu sinto a mesma coisa e quero usar esse artigo para explicar a minha percepção, sem que soe pura e simplesmente com síndrome de vira-lata. A desconfiança do brasileiro em relação ao sucesso do outro tem raízes históricas, culturais e sociais que valem a pena serem exploradas.
Se você já teve oportunidade de viajar pelo mundo, já deve ter percebido como os estrangeiros amam o povo brasileiro. Não só pela simpatia, pelo acolhimento e pelo calor humano, mas por uma cultura que valoriza a humildade. Isso tem muito a ver com a nossa formação religiosa, que rotula aqueles que ostentam como arrogantes e pretensiosos. Pegue essa formação cristã e acrescente um histórico de desigualdades brutais, abismos difíceis de transpor ainda hoje. Histórias reais de pessoas que ascenderam socialmente graças a desvios éticos e morais não colaboram para a valorização de uma cultura de progresso.
O sucesso só é valorizado no Brasil quando é difícil, é sofrido e só vem na base do sacrifício e da luta. Essa visão está presente na literatura, na música e nas artes em geral. Até aí, tudo bem. Acontece que, por trás dessa mentalidade, há o sentimento de desconfiança por quem conseguiu triunfar rapidamente. Quem chega ao topo muito cedo só pode ser privilegiado ou corrupto.
De um lado, quem está “na lama” deslegitima a autenticidade das conquistas alheias. Do lado do sucesso, o vitorioso nem tenta mais compreender o contexto de desigualdade social e começa a dizer por aí que é “todo mundo invejoso”. Sabe qual é o resultado perverso disso? Um não inspira mais o outro, ninguém se ajuda, o sucesso se transforma em um tabu e cada um que persiga suas próprias ambições sozinho. E quando conquistar alguma coisa, trate de esconder muito bem!
Para piorar, existem alguns medos relacionados ao sucesso. Algumas pessoas ficam extremamente ansiosas ao se imaginarem assumindo novas responsabilidades, mudando suas vidas e precisando superar altos desempenhos. Outras, criadas em contextos comunitários muito fortes, temem a perda da identidade. Será que aquele grupo de amigos ainda vai te aceitar depois do sucesso? E a família? O bairro? O grupo religioso? O sucesso pode criar barreiras entre algumas relações, causando uma sensação de isolamento.
A autossabotagem fica completa com o medo de fracassar depois de atingir o topo e uma autocrítica terrível que tenta convencê-lo de que você não é merecedor.
Eu sei que você deve ter se identificado em algum ponto do texto, mas é importante saber que nem todas as civilizações pensam assim. Os americanos, por exemplo, enfatizam o “sonho americano”, que celebra a ascensão social e o sucesso individual. Na cultura asiática, o status acadêmico e profissional é supervalorizado.
Famílias tradicionais do Oriente Médio celebram as conquistas geradas por negócios e comércios para construção de patrimônio para seus herdeiros. São diferentes abordagens para o sucesso, mas todas apreciam o esforço individual e perseguem o reconhecimento por seus feitos.
Infelizmente eu não tenho uma solução para este problema. Como o brasileiro preza muito o coletivo, meu desejo é que grandes histórias sejam capazes de inspirar pelo exemplo, assim como acontece com nossos atletas.
Que cada um possa encontrar uma referência de sucesso dentro de sua área, um profissional que seja como um farol de motivação e que a gente pare, de uma vez por todas, de condenar o outro pela própria prosperidade.
Por Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital e apresentador do Manhattan Connection.
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