Você já se deparou com um péssimo profissional que se acha o máximo? E com um artista amador que se julga um talentoso incompreendido? Provavelmente sim. E existe uma explicação cientifica para isso. Em 1999, os psicólogos Justin Kruger e David Dunning publicaram um estudo sobre superioridade ilusória, que ficou conhecido como “efeito Dunning-Kruger”. Segundo eles, somos muito ruins em nos autoavaliarmos e temos o hábito de superestimarmos as nossas próprias habilidades.
As pesquisas mostraram que somos capazes de desafiar a própria matemática quando o assunto são as nossas potencialidades. Ao pedir a autoavaliação de engenheiros de softwares, mais de 30% dos profissionais disseram estar entre os 5% mais talentosos de sua empresa. Em outro estudo, mais de 88% dos motoristas norte-americanos disseram dirigir melhor que a média. Nem o melhor matemático do mundo seria capaz de explicar essas contas.
Depois de mais de 100 estudos diferentes, Dunning e Kruger chegaram à conclusão de que tomos nós podemos ser vítimas da superioridade ilusória. E o mais curioso é que as pessoas que mais exageram em suas próprias auto avaliações são justamente as tidas como menos capacitadas. Os mais ignorantes tendem a se julgar quase ou até melhor que os próprios especialistas em determinadas áreas.
O fato é facilmente compreensível. Aquilo que eu sei é muito pouco perto do que eu sei que não sei. Por exemplo: eu sei que sei português e que não sei mandarim, japonês e árabe. Agora, o que eu não sabia até começar a escrever esse texto é que existem 6.192 idiomas em todo o mundo, segundo o Ethnologue, livro considerado a bíblia linguística.
Se essa informação estivesse expressa em uma pirâmide, as línguas que eu domino seriam apenas a pontinha. Em uma camada um pouco mais abaixo, estariam as cerca de 15 línguas que eu já sabia que existiam, mas que sou incapaz de falá-las. Todo o resto, ou seja, a maior parte, seria destinado às outras mais de seis mil línguas que eu simplesmente ignoro. É, Sócrates tinha toda razão quando disse: “Só sei que nada sei”.
E o efeito Dunning-Kruger pode ser muito perigoso. Um estudo feito em 2012 mostrou que cerca de 23% dos norte-americanos que se declararam falidos após a bolha financeira de 2008 deram a si mesmos a nota máxima em conhecimentos sobre finanças. É aquela velha história que diz que quem morre afogado é justamente quem diz que sabe nadar. Quem sabe que não sabe tem medo. Portanto, não se arrisca.
Contudo, embora os mais capacitados tenham mais noção de suas próprias limitações, reconhecendo a sabedoria de René Descartes ao dizer que “daria tudo o que sabia pela metade do que ignorava”, eles acabam cometendo outro equívoco. O erro dessa categoria de pessoas, segundo Dunning e Kruger, é o fato de acreditarem que todos sabem o mesmo que eles sabem. Ou seja, quando temos elevadas competências em alguma área, não conseguimos perceber o quanto essas habilidades são raras e valiosas diante de uma maioria.
Para rompermos o efeito Dunning-Kruger, os psicólogos dão duas dicas preciosas. A primeira é para sempre pedirmos e termos capacidade de aceitar feedbacks. Saber o que os outros pensam sobre nós, nos ajuda a termos mais autoconhecimento. E isso pode ser libertador. A segunda é para continuarmos sempre aprendendo. Devemos adotar a postura de eternos aprendizes. Nunca de experts. Afinal, agora você já sabe que um gênio está muito mais para um perfeito tolo…
Por Marília Cardoso, sócia-fundadora da PALAS, consultoria pioneira na implementação da ISO 56.002, de gestão da inovação