Ambidestria, em seu sentido original, refere-se à habilidade de usar ambas as mãos com igual destreza. Já no mundo dos negócios, utiliza-se a metáfora da ambidestria para a capacidade da organização de traçar estratégias de longo prazo enquanto novas oportunidades são exploradas a curto prazo.

Da mesma forma, os conselhos de administração ambidestros são aqueles que equilibram, com maestria, o gerenciamento eficaz do presente, com visão e estratégias inovadoras para o futuro, reconhecendo que ambas são cruciais para o êxito sustentável e de longo prazo da organização.

Resistência das empresas

No entanto, muitas empresas seguem reativas e em constante estado de alerta, mesmo com o fim da pandemia, o que é totalmente compreensível, já que estão enfrentando sucessivos desafios externos.

A nova lógica de trabalho remoto, problemas nas cadeias de abastecimento, conflitos geopolíticos e a ascensão tecnológica estão consumindo a energia dos conselhos de administração, com demandas cada vez mais operacionais. Em um ambiente dominado por pressões de curto prazo, pensar no futuro se tornou ainda mais desafiador.

Pesquisa Infojobs

Diante desse cenário, os conselhos precisam exercitar com sabedoria o conceito de ambidestria: promover e supervisionar as estratégias de longo prazo, ao mesmo tempo em que estabelecem compromissos e metas que garantam o resultado de curto prazo.

Futuro próspero

Dois terços dos conselheiros consideram que a sua prioridade para o sucesso organizacional é a estratégia de longo prazo (66%), seguida pela continuidade e resiliência dos negócios (39%), como aponta a pesquisa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC.

Esse é o conceito de ambidestria que passa a ser regra para as organizações. Ao mesmo tempo em que é necessário traçar estratégias de longo prazo, as empresas não podem esquecer o presente. É imperativo ser altamente adaptável às rápidas mudanças de mercado para gerar resultado aos stakeholders, sem comprometer o projeto de futuro.

Isso dependerá, no entanto, de um novo perfil de conselheiros, de uma maior diversidade geracional, amplitude de áreas de conhecimento e, o mais relevante, domínio das tecnologias exponenciais.

Habilidades e compromissos dos conselheiros

Em terceiro lugar entre prioridades dos conselheiros está o capital humano, com 28%. Ou seja, esta posição se refere à formação de grupos com múltiplas competências e experiências de mercado, que tragam eficiência para a gestão das reuniões e possuam algumas características em comum. Otimismo tecnológico, domínio digital, poder de decisão e de comunicação são algumas delas.

Diante da crescente incerteza e mudança externa, os membros do conselho de administração estão reavaliando estratégias para aprimorar tanto o seu desempenho pessoal quanto o da corporação, incluindo a otimização dos relatórios de gestão e de prestações de contas.

Aprimoramento da dinâmica

Segundo a pesquisa do IBGC, as prioridades para melhorar a dinâmica dos conselhos são:

  • A qualidade dos relatórios de gestão (45%);
  • A clareza da função do conselho x função da gestão (39%);
  • A franqueza das discussões nas reuniões do conselho (36%);
  • A dinâmica dentro do próprio board (35%).

A informação adequada ao conselho depende de relatórios de qualidade - internos, externos e frequentes. Em um contexto data driven, em que as decisões e o planejamento estratégico são fundamentados na coleta e análise de informações, a qualidade das definições está intrinsecamente relacionada à qualidade dos dados disponibilizados.

Os relatórios do conselho devem oferecer uma visão clara e abrangente, abordando oportunidades, questões e desafios, para assim permitir discussões aprofundadas. A negligência, nesse aspecto, pode expor o conselho a erros na assertividade de suas decisões e a riscos estratégicos.

Conceito central

A ambidestria deve ser uma habilidade consistente dos conselhos, isto é, deve-se pensar o presente e o futuro como duas dimensões fundamentais para a perenidade das organizações.

Em síntese, enfrentar as transformações constantes do cenário empresarial exige uma abordagem equilibrada entre a urgência de respostas imediatas e a necessidade vital de sustentar estratégias de longo prazo.

O atual contexto impõe uma complexidade inédita aos conselhos de administração. Entre atuar com estratégias de longo prazo e pensar nos resultados do presente, o certo não está mais em um ou outro, mas realizar ambos, ao mesmo tempo - esta é a ideia principal dos conselhos ambidestros.

Conselhos Ambidestros: construa o futuro com foco

Por Alsones Balestrin, cofundador da edtech Startup Academy, ex-Secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e Conselheiro de Administração e Fiscal, certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC.

 

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Foto: Depositphotos