Mudar de carreira não é fácil e alinhar isso a um propósito também não. Mas, eu posso te dizer que para mim essa mudança difícil é extremamente satisfatória. Há pouco mais de um ano, eu mudei minha vida em busca de fazer algo em que eu acreditasse e que pudesse impactar o planeta de uma maneira positiva.
Em 2005 me formei em Comunicação Social e em 2009 completei a pós-graduação em Ciências do Consumo Aplicado. Após isso, estudei Filosofia e Desenvolvimento Internacional. Tracei minha carreira trabalhando em agências de comunicação por 16 anos, seis desses no Brasil e os outros dez anos no Reino Unido. Minha experiência trabalhando com grandes empresas foi para mim uma importante universidade, aprendendo a lógica do mercado, utilizando as mais caras ferramentas de pesquisa e tendências.
Além de ter tido a oportunidade de trabalhar com renomados especialistas. Porém, muitas vezes na hora da decisão e execução de projetos, eu sentia que algo não fazia sentido. Havia muita paixão e investimento de tempo e recursos sendo colocados em projetos, em que o impacto não significava nada para mim. Quando colocava energia para um projeto de impacto sustentável acontecer, ele morria na praia e eu sempre tinha que gastar o resto do meu tempo implementando algo que não concordava ser útil para o mundo.
Ainda em Londres, saí do ramo da agência de publicidade para integrar o time de liderança de uma startup de pesquisa, a BAMM. Lá atuei coordenando projetos de consultoria para grandes marcas, como Unilever, Shell, Mercedes e Volvo, durante três anos.
Após uma jornada extensa de desconexão entre minha essência de querer entender o mundo para poder impactá-lo positivamente e trabalhar em empresas que impulsionavam o consumismo desenfreado, decidi me demitir.
Após isso, tirei um ano sabático, e foi quando tive a experiência de morar embarcada por meses em um navio de uma ONG de conservação marinha, a Sea Shepherd. Foi uma experiência divisora de águas para mim. Fazia os trabalhos mais manuais que você pode imaginar. Limpava banheiros, montava móveis, desenferrujava um grande navio antigo de 40 metros. Meu rosto acabava totalmente sujo e coberto de fuligem todos os dias. Mas eu estava irradiante, feliz. Percebi que o foco não deve ser o que eu faço, mas sim, para o que eu contribuo.
Eu tive também a oportunidade de participar de uma expedição científica e observar no olho as baleias, os tubarões e as tartarugas pelas quais essa ONG trabalha. Eles são seres sencientes – capazes de sentir sensações e sentimentos de forma consciente -, mas que ao mesmo tempo não têm voz para se defender da nossa destruição. Senti na pele o que o meu limpar de latrinas e corpo cheio de tinta representava: ver um mundo um pouco melhor com o meu trabalho.
Essa experiência confirmou meu desejo de trabalhar com sustentabilidade e conservação, o que, somado à pandemia, me trouxe de volta ao Brasil, onde hoje atuo com a sede desta ONG no Brasil e com uma empresa de impacto positivo.
Para quem busca se encontrar em sua jornada de carreira, e vive este tempo de conflito entre carreira e propósito, minha dica é: não foque no que você faz, mas para o que você faz. Pode ser que isso signifique trabalhar alguns anos para juntar conhecimento suficiente para oferecer para uma causa que precisa de expertise qualificada.
Ou aceitar ganhar menos, trabalhar mais, aprender sobre termos digitais que nunca imaginou precisar, para impactar mais pessoas a tomarem escolhas conscientes para o planeta. Pode ser também limpando convés para salvar baleias. Quando o resultado é alinhado com sua ética, sua alma fica em paz.
Por Nathalie Gil, Líder de Experiência e Relacionamento na Positiv.a e Diretora de Desenvolvimento na Sea Shepherd no Brasil.
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