Bossware: produtividade, colaboração e engajamento são as métricas a serem avaliadas pelas lideranças nos novos modelos de trabalho.
As relações de trabalho passaram por mudanças repentinas nos últimos anos e, como em todo cenário que exige respostas rápidas, as empresas tiveram que aderir a novos modelos de trabalho, a fim de garantir a continuidade e bom desempenho de seus negócios. Trabalhando à distância, as lideranças encontraram nas ferramentas de monitoramento, um meio de acompanhar os passos e atividades de seus colaboradores.
De acordo com um estudo realizado pela Digital.com, 60% dos empregadores nos Estados Unidos utilizam algum tipo de ferramenta capaz de acompanhar as atividades realizadas pelos funcionários em suas casas. Uma outra pesquisa, também realizada em solo norte-americano, demonstrou que a demanda por esses tipos de ferramentas cresceu 78% em janeiro de 2022, quando comparada ao mesmo período de 2020, e 75% no primeiro trimestre deste ano em comparação a 2019.
Entretanto, desde que passaram a fazer parte do mundo corporativo, a adesão a algumas dessas ferramentas começou a ser questionada em termos de segurança e privacidade, inclusive, pelo fato de algumas empresas instalarem tais programas de forma secreta na rotina do colaborador.
Ao ativar as câmeras e microfones sem o consentimento do usuário, realizando capturas de telas, entre outros dados biométricos, algumas dessas medidas esbarram em questões legais e trazem boas reflexões:
. Seria esta uma iniciativa genuína para acompanhar, de fato, o desempenho, colaboração, produtividade e engajamento das equipes?
. Ou estaríamos presenciando soluções que minam culturas e confiança entre as partes, impulsionando ações de microgerenciamento que são prejudiciais a um bom trabalho?
A vigilância deve ser motivada para melhores práticas do trabalho, para avaliar o desempenho dos profissionais, entender sua adesão ao uso de novas ferramentas tecnológicas, seu engajamento e colaboração nas atividades. Se cada vez mais estamos digitais, precisamos entender que os dados serão a moeda de troca para as relações nesse cenário – é uma via de mão dupla e de preferência com transparência mútua, entre empresa e colaborador.
O monitoramento e coleta de dados deve reverberar em ações internas e estratégias de melhoria na gestão. Não é sobre vigiar, mas garantir o melhor para ambos os lados: a empresa ter ciência que o investimento em tecnologias está sendo efetivo e que o engajamento é verdadeiro, da mesma forma que o colaborador tem o feedback sobre sua eficiência e produtividade, a partir das oportunidades e experiências fornecidas pela companhia.
Aplicações de spyware ou stalkwares que usam brechas em legislações para vigiar e controlar – como vemos nessas ações relacionadas a infrações com câmeras por exemplo -, não devem ser encorajadas em nenhum momento. É necessário políticas estruturadas, controle e segurança sobre o dado fornecido, e a legitimidade nas ações corporativas.
Para isso, não há caminho melhor que as soluções focadas em people analytics, capazes de conectar insights de tecnologia com comportamento humano, assegurando um acompanhamento individual e promovendo condições de melhorias para a carreira e o desenvolvimento interno do profissional, apoiando-o onde existem dificuldades, e validando que os esforços realmente trazem engajamento às soluções ofertadas.
Uma solução que vai no sentido contrário de softwares intrusivos e estimula o crescimento profissional e tecnológico do colaborador, que terá suas contribuições reconhecidas.
É necessário que todos entendam que estamos passando por momentos de adaptação e aprendizado sobre o novo sistema. Da mesma forma que a empresa exigia evidências de trabalho no mundo presencial, ela pode fazer no híbrido ou virtual. Não é porque estamos em novas modalidades de trabalho, que deixamos de ter deveres quanto à transparência do trabalho e acordos com gestores e empresas.
Temos mais liberdade, autonomia, flexibilidade e mais, mas isso não significa que não devemos continuar mostrando produtividade e eficiência no que fazemos. Faz parte do novo processo os colaboradores também se verem em adaptações de como demonstrar o seu trabalho de formas diferentes e relevantes, já que não estamos lado a lado todos os dias, trocando experiências fisicamente.
Assim como a “vigilância” é repensada, a transparência quanto a evidenciar o trabalho por parte do colaborador também é. Mas como é para tudo, existem limites e fronteiras a serem respeitadas e cada modelo de negócio precisará entender como atuar, com que dados trabalhar e até onde ir com base no perfil da sua empresa.
Sempre de acordo com as regulamentações e ao fator principal do respeito e privacidade ao outro: esses serão os limites a serem desenhados. Se os acordos são bem determinados, as fronteiras não são infringidas.
A jornada da transformação digital não é algo que acontece do dia para a noite e o fator humano é peça-chave a ser considerada neste caminho.
Por Alline Antóquio, diretora executiva e especialista em Google da Gentrop, empresa parceira e expert em transformação por meio de soluções de tecnologia.
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