Quem me conhece sabe que eu sou um grande entusiasta em acessibilidade digital, não apenas porque atuo como UX Designer e UX Researcher, mas porque defendo que a acessibilidade deve ocupar posição central quando o assunto é UX.

Quando desenvolvemos uma estratégia pensando em UX, é preciso considerar cada indivíduo dentro de um ecossistema digital, onde desconstruir o conceito de que a acessibilidade digital é direcionada apenas às pessoas com deficiência é uma tarefa diária primordial.

Pois, o design completo deve ser utilizável por qualquer pessoa, a qualquer momento e em qualquer lugar.

Por mais que acessibilidade seja um tema que vem sendo cada vez mais discutido em sociedade, quando falamos em acessibilidade digital encontramos vários pontos técnicos que causam dificuldade de acesso nesses ambientes digitais.

Acessibilidade digital em números

Muita gente ainda fica em dúvida sobre o próprio conceito de deficiência, pois bem, segundo a definição da ONU, uma pessoa com deficiência é aquela que tem um impedimento físico, mental, intelectual ou sensorial que compromete sua participação plena na sociedade.


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Em paralelo a isso, os problemas de acessibilidade não são das pessoas com deficiência, mas de um mundo que gera e mantém barreiras para pessoas com corpos e habilidades diversas.

No Brasil, existem 45 milhões de pessoas com deficiência (PcD), em nível leve, moderado ou severo, de acordo com o Censo de 2010. Isso significa que aproximadamente um em cada quatro brasileiros possui algum tipo de deficiência.

São pessoas com deficiências físicas – baixa visão (20%), queda sobre a capacidade auditiva (5%), pessoas com mobilidade reduzida (7%) – e pessoas com neurodiversidade.

Contudo, é esperado que esses números estejam ainda mais expressivos, devido ao envelhecimento da população e condições limitantes que surgiram depois do Censo de 2010. Um exemplo disso é a chikungunya, que deixou diversas pessoas com limitações físicas, como minha irmã, que passou mais de 3 meses sem conseguir andar direito, chegando a usar muletas.

E quando isso vai para o ambiente digital, estamos falando de mais de 45 milhões de potenciais usuários. Segundo o estudo The Global Economics of Disability, a comunidade de pessoas com deficiência representa a terceira maior potência econômica do mundo, pois são 1,85 bilhão de pessoas que juntas consomem mais de US$13 trilhões ao ano.

Acessibilidade digital: igualdade, equidade ou ambos?

Para tratarmos de acessibilidade digital, precisamos distinguir dois conceitos geralmente utilizados como sinônimos: igualdade, que se refere a tratar todas as pessoas da mesma forma, enquanto que a equidade considera que não somos todos iguais e precisamos considerar as diferenças.

Ambos são essenciais ao que chamamos de design inclusivo, mas quando enfatizamos o conceito de equidade, valorizamos a diversidade das pessoas, considerando suas necessidades e, apenas deste modo, podemos desenvolver uma ferramentas adequadas a elas.

Acessibilidade digital do ponto de vista de um desenvolvedor

Um produto ou serviço digital inclusivo, segundo a WCAG 2.1, deve atender a quatro princípios fundamentais: deve ser perceptível, operável, compreensível e robusto, de acordo com o nível de criticidade necessário: A, AA ou AAA.

Para um produto digital ser considerado perceptível, o usuário deve identificar todos os elementos e informações presentes na interface. O conteúdo deve ser apresentado em diferentes formas, conter textos alternativos, legendas, diferenciação entre Foreground e Background (especialmente pela escolha da paleta de cores) e ser responsivo.

Além dos elementos presentes na User Interface, o site precisa ser operável, ou seja, o usuário deve navegar com facilidade, dispor de tempo suficiente para consumir multimídia baseada em tempo e realizar o preenchimento de dados de modo simples.

Por sua vez, para que o usuário consiga interagir com o conteúdo apresentado na landing page, por exemplo, o site precisa ser compreensível. A página precisa ser legível para a leitura, apresentar navegação previsível e oferecer assistência quando necessário.

A plataforma também precisa ser robusta e compatível com as mais modernas ferramentas tecnológicas para garantir a acessibilidade das pessoas com deficiência permanente.

Em relação aos níveis de acessibilidade: Nível A atende apenas as barreiras básicas de acessibilidade digital, nível AA soluciona a maioria das barreiras de usabilidade, pois é pensado para sites e aplicativos com grande volume de usuários, e nível AAA indica as páginas que apresentam maior detalhamento em relação aos critérios de acessibilidade dos níveis anteriores.

Insights sobre inclusão digital

Aplicar acessibilidade digital à UX não significa desenvolver um produto ou serviço apenas para as pessoas com deficiência, mas pensar em um projeto que trate as pessoas como iguais, considerando o conceito de universalidade da internet.

Quando um desenvolvedor está envolvido na criação de um produto ou serviço digital, deve pensar:

  • Este produto ou serviço atenderá a todas as pessoas igualmente?
  • A jornada do usuário será percorrida de maneira consistente?
  • A experiência proporcionará um impacto positivo nos usuários?

E isso se aplica a todos os que estão envolvidos no processo de desenvolvimento de um produto ou serviço digital, desde antes de saber exatamente o que será, até quando o estão acompanhando no mercado após a entrega.

Tornar a ferramenta acessível nos aspectos técnicos, físicos, visuais, sonoros e cognitivos beneficia todas as pessoas ao viabilizar a utilização de um produto ou serviço. Acessibilidade digital deve ser um parâmetro e não uma exceção.

“Algumas pessoas pensam que acessibilidade se trata apenas de entender os requisitos legais do projeto. E essa é uma percepção que gostaríamos de mudar. Porque a acessibilidade é sobre pessoas com deficiência poderem usar seus sites, aplicativos e tecnologia digital. É sobre experiência do usuário.” Shawn Lawton Henry, especialista em acessibilidade digital.

Nos últimos anos, muitas marcas começaram a se posicionar em relação a acessibilidade e diversidade, o que nos leva a refletir se esse movimento é genuíno e se as marcas realmente estão preocupadas com essas causas ou se apenas estão aderindo ao movimento pela imagem.

Um exemplo disso é quando uma empresa oferece vagas de emprego para PcD e essas pessoas precisam se inscrever em um site não inclusivo.

Ou quando uma organização contrata pessoas com deficiência para trabalhar em funções fora de suas áreas de competência, como presenciei em uma das empresas em que trabalhei anteriormente.

O posicionamento diante desses temas precisa ser genuíno e as empresas precisam entender, de uma vez, que colocar a acessibilidade digital no centro da experiência do usuário não representa mais um diferencial.

A inclusão digital está prevista na legislação brasileira, mais especificamente na Lei Brasileira de Inclusão de 2016 e no Decreto Nº 6949 de 2009, os quais foram pensados para evitar barreiras tecnológicas que possam inviabilizar o acesso de uma pessoa com deficiência ao ambiente virtual.

A acessibilidade é, portanto, um direito a ser garantido.

Acessibilidade digital no centro da User Experience (UX)

Por Jefté Macedo, UX Researcher na keeggo.

 

 

 

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