A magnitude do impacto causado pela pandemia do coronavírus acelerou o que podemos denominar como sendo uma revolução da sustentabilidade das empresas. Consequências ambientais, sociais e de gestão da governança empresarial são cada vez mais inevitáveis e, passaram a pressionar ainda mais as organizações e os governos.

Essa onda de choque continua a desafiar a lógica do capitalismo, tal qual o conhecemos. Empresas e grupos econômicos, com lucratividade e retornos sobre o patrimônio historicamente elevados, foram pegos no contrapé da repentina mudança. Fica evidente que nenhuma empresa e/ou setor da economia é imune à mudanças.

Já não é de hoje que tanto se fala sobre a importância da sustentabilidade para o equilíbrio social e ambiental do planeta. Contudo, pouco progresso foi feito até o momento. Segundo artigo recente da Bain & Company, apenas 4% das iniciativas de sustentabilidade em âmbito global foram bem-sucedidas.

Neste mesmo artigo, a Bain & Company destaca que o consumo global cresceu massivamente, enquanto muitos dos recursos naturais permanecem fixos e são finitos ou, no máximo, parcialmente renovados. Em algumas áreas, o consumo está excedendo a capacidade de abastecimento de forma a afetar o equilíbrio sistêmico; os frutos do mar são um bom exemplo disso. As consequências negativas da atividade corporativa são, cada vez mais, medidas, visíveis e expostas ao escrutínio da opinião pública.

O novo contexto social, que foi profundamente alterado por conta da pandemia, acentua a pressão de diferentes stakeholders que estão acompanhando, ao vivo, pelas redes sociais, tudo o que as empresas têm feito e, sobretudo, como agem. São novas abordagens, novas formas de se trabalhar, novas formas de se relacionar, tudo isso aumenta a velocidade de transformação e muda o patamar do que sejam negócios sustentáveis. Sustentabilidade associada com uma verdadeira revolução, a atingir em cheio empresas de todos os portes e segmentos. Isso já está requerendo novos modelos de negócios mais sustentáveis, que vão mudando a lógica de competição mercadológica.

O escopo da sustentabilidade está se expandindo para abranger uma gama mais ampla de ameaças ambientais, bem como desafios sociais, econômicos e de governança — desde os impactos na saúde dos produtos até os direitos de gênero, à igualdade alimentar. O capitalismo de stakeholders tornou-se o tema do principal evento do Fórum Econômico Mundial de 2020 em Davos.

O capitalismo de stakeholders se mostra mais adequado para lidar com as demandas dos tempos atuais, penso. Contudo, será necessária uma nova liderança nas empresas e em muitos governos, para que possamos construir esse novo caminho de evolução. No âmbito das empresas, essa revolução da sustentabilidade traz, no seu bojo, a necessidade de se trabalhar em quatro frentes concomitantes, quais sejam: escolhas estratégicas, reinvenção de produtos, reinvenção de operações de modelos de negócios e aprender a trabalhar com parcerias de inovação que complementem o portfólio estratégico da empresa.

Para que tudo isso funcione bem, fundamental uma força de trabalho talentosa, engajada e em sintonia de comportamento com o “novo normal”. Empresas terão de ser reinventadas e/ou reconstruídas. A função gestão de pessoas é quem reúne as melhores condições para liderar essa agenda, desde que se apresente com os atributos de liderança, apetite de mudança e compreensão da visão de mundo contemporânea, compatíveis com o tamanho do desafio a ser superado e, sem a timidez de ficar escondida no conforto burocrático das rotinas administrativas, felizmente cada vez mais automatizadas graças ao uso da inteligência artificial.

A sustentabilidade e o capitalismo de stakeholders

Por Américo Figueiredo, Conselheiro Consultivo, Professor Educação Executiva em Gestão de Pessoas, Governança e Organizações, Mentor de Carreira. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.

 

 

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