O cenário de vulnerabilidade extrema enfrentado pela comunidade transgênero em praticamente todas as regiões do mundo é um dos temas de atenção nas ações realizadas em junho, o mês do Orgulho LGBTQIAP+.

No contexto global de intensa exclusão e opressão contra transgêneros, o Brasil se destaca como um dos países mais hostis e perigosos para essa comunidade. Os crimes de ódio praticados contra pessoas trans alcançam em nosso país os maiores índices mundiais.

O projeto de pesquisa Trans Murder Monitoring (TMM) aponta que 38,2% dos assassinatos de pessoas trans no mundo acontecem no Brasil; pelos dados de 2021, mencionados no Dossiê Antra 2022, o país permanece como o que mais assassinou pessoas trans, com 125 mortes.


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Isso ocorre em função da cultura patriarcal, machista e sexista que predomina secularmente na sociedade brasileira e tem sido amplamente disseminada nos últimos anos.

Assumir uma identidade trans no Brasil implica ocupar uma posição social de profunda vulnerabilidade e invisibilidade, que se evidencia desde a rejeição familiar, com expulsão precoce dessas pessoas dos lares de suas famílias, até a ampla falta de oportunidades no mercado de trabalho formal, que empurra mais de 90% dessa população para os setores de exploração sexual.

Contudo, os aspectos de segregação e violência que atingem a comunidade de transgêneros no Brasil são ainda mais severos quando pessoas de gênero trans possuem ainda outro marcador social também alvo de exclusão.

No caso dos registros de assassinatos de pessoas trans, verifica-se que a maior parte das vítimas são também pessoas afrodescendentes e vivem em localidades periféricas e carentes de grandes centros urbanos. Isso demonstra que a transfobia no Brasil se mostra ainda mais violenta quando associada ao racismo.

Outra característica com o efeito de aumentar imensamente a posição de vulnerabilidade social de uma pessoa trans é a de uma deficiência somada ao seu perfil pessoal.

Apesar de não haver estudos de nenhuma ordem sobre as condições sociais de pessoas trans com deficiência, a existência dessa interseccionalidade como parte da diversidade humana é inquestionável, mesmo sendo algo tão invisibilizado.

O fato de não haver dados e referências estatísticas que possam revelar como são as condições de vida de pessoas trans com deficiência já se mostra como importante indício de que este segmento tão específico da sociedade vive totalmente ignorado por todas as instituições sociais, sejam elas públicas ou privadas.

Nesse sentido, ser uma pessoa com identidade de gênero trans e ter também uma deficiência se torna uma existência quase que fantasmagórica, onde a luta por reconhecimento e representatividade se dá dentro dos próprios segmentos a que essas pessoas pertencem. Ou seja, frequentemente elas experimentam a condição de pertencimento algum.

Lidar cotidianamente com a transfobia e o capacitismo juntos é enfrentar incessantemente seu apagamento social. Pois tal interseccionalidade dificulta até a conquista de aliados, considerando que grande parte das pessoas antitransfóbicas podem ser capacitistas, e muitas das pessoas anticapacitistas podem ser transfóbicas.

Diante de tantos desafios decorrentes dessa interseccionalidade, ocupar uma vaga no mercado de trabalho tem o lugar de um sonho inalcançável para profissionais que apresentam tais características.

Nessa busca constante por reconhecimento social da própria existência, conseguir uma vaga de emprego pode significar finalmente ser visto como ser humano.

Olhar de forma atenta e receptiva para perfis de pessoas que apresentam intersecções de marcadores de exclusão social é muito importante.

Promover diversidade e inclusão dentro do ambiente de trabalho é direcionar esforços para construção de espaços laborais que possam refletir de forma respeitosa, acolhedora e representativa toda a gama de possibilidades de características humanas.

O que constitui cada ser humano como uma pessoa única e, consequentemente, como um profissional único é sua combinação também única de habilidades, aprendizados, experiências e características pessoais.

A interseccionalidade na exclusão das pessoas trans

Por Walleria Suri, consultora na Talento Incluir, mulher transgênera com deficiência visual.

 

 

 

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