A importância do autocuidado na maior crise da nossa história
É possível prever uma crise. Anos de estudos científicos mostram mudanças históricas e movimentos sociais que denotam os primeiros passos de um período complicado em determinado país ou sociedade. Hipervalorização de moeda, especulação econômica, populismo desmedido e outros fatores facilitam a identificação deste início - por outro lado, dificilmente prevemos o fim destas mesmas crises. Na nossa vida pessoal, a situação não é tão diferente, guardadas as devidas proporções, principalmente neste momento único que vivemos em meio a pandemia da COVID-19.
Nossa situação não deixa prever qualquer fim para este período, seja em termos sanitários, econômicos, políticos ou mesmo mentais. De toda forma, se adaptar é algo que nos é inerente e o ser humano o faz da maneira que achar mais conveniente. E após um ano de pandemia, vejo como faz falta o autoconhecimento para atravessar uma crise como esta. Mais do que se conhecer, se cuidar tornou-se um pilar da travessia nesta mudança tão profunda trazida pela COVID-19. E tal qual falo no meu TEDx aqui publicado, entender o seu próprio tempo, sabendo que a tua escolha está em como abraçar a crise e, não necessariamente, como controlá-la, é o primeiro passo para sair adiante com alguma sanidade preservada.
Deixar o novo nascer e o velho morrer requer uma capacidade enorme de aceitação e adaptabilidade. Muito disso passa por entender que é natural reagir a uma situação brusca de mudança como a que vivemos com raiva, euforia, exaltação e tudo isso ao mesmo tempo. Os extremos permeiam todas as nossas semanas durante a pandemia, se autorregular para essas reações é um cuidado importante na travessia dela também. Neste processo, se acolher e dar o descanso para a mente faz uma diferença brutal. O ócio, a calma e o vazio de um dia sem o ruído das preocupações, quando possível, acolhem o processo de mudança dentro de si de maneira muito significativa. Abraçar a si, entendendo e aceitando esses extremos, acredite, pode salvar sua vida no meio de uma crise.
Neste longo e pavoroso inverno da COVID-19, porém, sabemos que a prática deste autocuidado vem junto de uma série de decisões importantes para se tomar. Seja numa simples compra a se fazer ou um novo rumo profissional a se tomar, o mundo não espera nossa calma. Há de se dizer, contudo, que sem ela e a parcimônia para dar o próximo passo, dificilmente o horizonte vai se clarear. Por isso, acredito que o lema "ser lento com grandes decisões e rápido com as pequenas" encaixa bem como um mantra nestes tempos confusos. O passo profundo deve vir com o mínimo de vislumbre do futuro, o passo rápido tem que vir com a necessidade do avanço - e ambos devem ser dados sem esquecer que ainda é você a pessoa que estará do outro lado.
Nosso autocuidado é assunto emergente nas discussões mais contemporâneas, apesar de consolidado entre os prevencionistas. Ele se tornou tema em evidência devido à crise da COVID e toda necessidade que vivemos de zelar pela nossa saúde mental. Vivemos um período que exige uma dedicação enorme a uma série de tarefas, comprometimento intenso e responsabilidades, pessoais e compartilhadas.
Saber que nossa forma de pensar, as atitudes diárias e o cuidado com o próprio bem-estar são elementos cruciais para sustentar-nos nesta transição pode representar um alívio enorme. É o verdadeiro trabalho de construir e manter alguma Segurança Emocional.
Por Juliana Bley, mestre psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina. Palestrante do TEDxUFPR, autora do livro “Comportamento Seguro“, assim como Designer e Facilitadora de Aprendizagens. Juliana esteve à frente de grandes movimentos para transformação focada no desenvolvimento de pessoas, empresas e profissionais interessados em viver e trabalhar com mais Saúde, Integridade, Inovação e Cuidado. No seu portfólio atuou em grandes empresas como Natura, Petrobras, Mondelez, Vale.
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