A Gestão de Pessoas como pilar das iniciativas em prol da saúde mental. Ansiedade é o que mais aflige colaboradores e gestores no mundo corporativo. Outras questões como volta da licença maternidade merecem atenção.

Se você não falou, certamente ouviu uma destas frases pelo menos uma vez nos últimos tempos, seja de um colega de trabalho, líder ou subordinado: “estou sentindo palpitações, não me sinto produtivo, tenho tantas coisas para fazer ainda, não sei se vou dar conta, esses e-mails não acabam? Estou suando frio, nunca senti tanto medo, me sinto só e ninguém me entende, quando as coisas voltarão a ser como antes? Será que meu chefe vai entender que não estou bem? Será que as pessoas do meu time entenderão que preciso de ajuda? Se não terminar isso a tempo acho que vou ser mandado embora, meu corpo e minha mente doem”, entre outras.

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Estes são sintomas de que algo não está bem, de que estamos perdendo o controle de nossas emoções e podemos acabar adoecendo. Atentas a estes movimentos de desequilíbrio cada vez mais intensos após a pandemia, as empresas entenderam que é preciso colocar a saúde mental dos colaboradores como um dos temas prioritários e emergenciais. Não é novidade dizer que esse período gerou impactos significativos na saúde mental de trabalhadores em todo mundo.

É impressionante a informação da OMS, que aponta o Brasil como o país mais ansioso do mundo, onde 18,6 milhões de brasileiros convivem com o transtorno de ansiedade. A pandemia potencializou ainda mais as questões emocionais.

Uma pesquisa recente da organização educacional global The School of Life, com 491 pessoas de diferentes regiões do Brasil, mostrou que, dentre os principais sintomas, a ansiedade aparece como o maior impacto gerado entre gestores e funcionários. Entre a liderança, 63,51% apontam que a ansiedade é o principal agravante sentido na saúde mental, seguida de estresse (47,64%), insônia (27,36%), burnout (19,59%) e depressão (9,80%).

O ponto que devemos observar diante de pesquisas importantes como essas, é que os dados refletem a inevitável e necessária adaptação das empresas de criar e oferecer iniciativas com o objetivo de sanar os impactos na saúde emocional de seus colaboradores. Sim, estamos mais vulneráveis e as organizações precisam ter ações que acolham sentimentos como apreensão, angústia, incerteza e desconforto e tratá-los com segurança.

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As habilidades emocionais há algum tempo vêm destacando os profissionais no mercado de trabalho e são fortemente avaliadas em processos seletivos, e com as consequências deixadas pela pandemia, receberam uma significativa potencialização. E se esse tipo de qualificação é exigido para uma contratação, então, é necessário cuidar da saúde mental dos funcionários de forma estrutural. As pessoas são a base de qualquer empresa, seja ela de pequeno, médio ou grande porte, e são elas que sustentam os negócios corporativos.

Dentro desse cenário, empresas enxergam a necessidade de estarem cada vez mais próximas de seus colaboradores e estão investindo em ações que suportem a promoção da saúde mental e cura sistêmica do ambiente de trabalho. É sobre como humanizam as relações interpessoais, proporcionando um ambiente de trabalho seguro e agradável, motivando, mantendo as pessoas engajadas, sempre com empatia e transparência.

São muitas as possibilidades e iniciativas que podem ser citadas como, por exemplo:

  1. a disponibilização de plataforma de terapia online para o colaborador com extensão para a família;
  2. treinamentos e palestras que abordem temas ligados à saúde mental e que levem conhecimento e acolhimento;
  3. treinamento de representantes de cada área para identificação de possíveis sintomas e apoio aos colaboradores que estejam demonstrando algum tipo de sofrimento ou necessidade específica;
  4. formação da liderança para reforço de comportamentos não-aceitáveis e aprendizado para acolher e reconhecer quando um funcionário próximo não está bem;
  5. discussão e promoção de ações específicas para o tema e, principalmente,
  6. promover com estas ações a cultura do cuidar, onde as pessoas e lideranças entendam que tudo bem não estar bem, que podemos sim pedir ajuda.

As medidas tomadas pelas empresas em prol da saúde mental de seus colaboradores são mais que necessárias para minimizar os impactos emocionais causados pela pandemia, fortalecendo as formas de lidar com tudo com mais leveza, pois o fator humano é a chave para o posicionamento estratégico das companhias em qualquer setor econômico de atuação.

A maneira como lidamos com os acontecimentos podem agravar ou solucionar o problema, por isso é responsabilidade da Gestão de Pessoas se posicionar de forma mais pragmática e utilizar dados de estudos sobre a saúde mental dos colaboradores e estatísticas sociais, para criar cada vez mais estratégias de apoio e soluções eficazes.

As ações devem ser pensadas sempre com olhar humanizado e acolhimento, isto não significa deixar de lado a produtividade dos negócios das empresas e sim entender que pessoas saudáveis são pessoas mais produtivas.

É sobre o “respire fundo e conte até 10”, para que líderes e funcionários entendam que não estão só nesta jornada pela cura e equilíbrio. A promoção da saúde mental é fundamental para a sobrevivência das organizações em um mundo cada vez mais intenso, ansioso e caótico.

Um olhar empático após a Licença Maternidade

Outro ponto importante é a saúde da mulher, principalmente na volta da licença maternidade. Longe do trabalho há alguns meses e com uma rotina em casa completamente diferente, esta colaboradora precisa de uma atenção especial na retomada. Algumas empresas se preocupam com a saúde e bem-estar não só do funcionário, mas da família também.

Pensando assim, as companhias aumentam a permanência de colaboradores, retendo talentos, além de se posicionar como um bom lugar para trabalhar.

Algumas ações importantes que as empresas podem começar a adotar são elaborar um plano de reintegração desta funcionária e mapear necessidades da nova rotina, já que agora existirão momentos de amamentação, consultas médicas com o bebê, entre outras mudanças naturais, que precisam ser respeitadas e acolhidas.

Exemplos de questões que devem ser levantadas para a preparação desse cuidado:

  • como será a adaptação da profissional à função?
  • quem será o responsável por acompanhá-la nessa rotina de reintegração?
  • como orientar a equipe sobre qual a melhor estratégia de comunicação?
  • como podemos ajudar a facilitar a conciliação entre demandas de trabalho e família?
  • quais treinamentos serão necessários para este retorno?
  • como avaliar o desempenho desta profissional a partir de agora?

Mariana Ferreira, que trabalha conosco como coordenadora de RH da Wavin, conta que retornar da licença maternidade gera muita ansiedade. Se questionava se sua filha se adaptaria a escola, se ficaria doente e o que aconteceria durante os sete meses que ela ficou ausente da empresa. “Pensava como iria conseguir me atualizar de todas as demandas, se o time com quem eu trabalhava ainda seria o mesmo, se daria conta de tudo. Essas eram perguntas que me passavam pela cabeça na véspera do meu retorno para o trabalho”, revela.

Ela ficou surpresa com o quanto seu primeiro dia na volta ao trabalho foi completamente acolhedor e especial. “Minha gestora e toda a equipe do RH estavam em uma reunião de vídeo para me dar as boas-vindas. Meu time tinha montado uma apresentação para me atualizar dos principais temas que aconteceram nesse período. Na primeira semana tive minha carga horária reduzida em duas horas para poder acompanhar a adaptação da minha filha na escola. O time foi treinado para me receber, o que falar ou não falar para uma mãe profissional que acabava de retornar ao trabalho. Sem dúvida, me senti muito respeitada e reintegrada ao time. Sei que a maternidade não é um impeditivo para o crescimento e desenvolvimento da minha carreira na empresa”, conclui.

A saúde mental no trabalho depende de uma visão empática e de cuidado por parte da liderança das empresas e dos gestores de pessoas. É uma grande responsabilidade que precisa ser levada a sério.

Afinal, vale a pena! Gente feliz resulta em ambiente saudável e produtividade.

A Gestão de Pessoas como pilar das iniciativas

Por Ana Luisa Winckler, diretora de Pessoas da Wavin no Brasil.

 

 

 

Ouça também o PodCast RHPraVocê, episódio 87, “Faz sentido falar em meritocracia na gestão de RH?” com Gustavo Mançanares Leme, Sócio Diretor da Tailor | Headhunter & Estrategista de RH e Renata Meireles, Gerente Sênior Pessoas & Performance da Cyrela, ambos colunistas do RH Pra Você. Clique no app abaixo:

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