O mito da mulher perfeita que consegue “dar conta de tudo” sozinha, o tempo todo, causa frustrações, expectativas irreais e pode prejudicar saúde física e mental

Qual o modelo de mulher “ideal” no mundo de hoje? Se, na década de 50, havia a valorização da mulher como “rainha do lar”, cuidando com esmero dos afazeres domésticos, dos filhos e do marido, hoje a publicidade e outros meios tendem a cultuar a mulher “multitarefa”- aquela que desempenha vários papéis e executa tarefas diversas relacionadas à família, à casa e à profissão, como se isso fosse inerente da personalidade feminina. Mas será que isso é verdade?

Ao contrário do que se acredita, há pesquisas que contradizem o senso comum de que as mulheres são mais hábeis do que os homens para fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Uma delas foi realizada pelo site americano Plos One, e aponta que o cérebro feminino não é mais eficiente do que o masculino para fazer várias coisas ao mesmo tempo. Na verdade, segundo o estudo, o cérebro humano não tem tal capacidade – independentemente do gênero.

Mas então por que tantos ainda defendem tal ideal? O mito da multitarefa é mais uma ferramenta de pressão sobre as mulheres, que seguem se norteando por esses conceitos equivocados. A cobrança social sobre as mulheres ainda é muito forte, em muitos aspectos, desde a obrigação de estar sempre bonita e em forma até as cobranças em relação à maternidade e outras questões. O talento compulsório para ser multitarefa é apenas mais uma delas.

Na verdade, essa crença pode causar expectativas irreais e até mesmo prejudicar a saúde física e mental das mulheres. Querer ser responsável por múltiplas tarefas e executá-las de forma impecável, o tempo todo, sem contar com nenhuma ajuda e sem dar-se o direito a descansar deixa as mulheres sobrecarregadas, causa frustrações e até mesmo males físicos e mentais, pois as mulheres são humanas e têm suas limitações. É muito importante demonstrar que esse perfil idealizado da mulher não é verdadeiro.

Vamos a alguns argumentos importantes, que refutam a ideia da mulher multitarefa:

Ninguém é 100% bom em ser multitarefa

Assim como explicado acima, o cérebro humano não foi desenvolvido para executar múltiplas ações simultaneamente. De forma similar ao estudo da Plos One citado, outros testes indicaram o mesmo, como o da Universidade de Bergen (Noruega), publicado pela Harvard Business Review.

O levantamento revelou que, se essa diferença de fato existe, na vida prática é irrelevante. Para testar a tese, um grupo de 66 mulheres e 82 homens foi selecionado para simular situações corriqueiras – como organizar uma reunião com distrações e tendo que lembrar-se de tarefas futuras. Segundo a pesquisa, não houve diferença entre o desempenho dos homens e das mulheres – ou seja, não há nenhum motivo para as mulheres serem consideradas mais multitarefa.

Multitarefa é sinônimo de mulher sobrecarregada

A tese de que a mulher é melhor em se dedicar a várias atividades simultaneamente faz com que elas se esforcem para dar conta de tudo – trabalho, filhos, casa, marido – e sintam-se com essa obrigação, o que causa estresse e faz com que muitas sofrem por ficarem sobrecarregadas.

Por mais que tente ao máximo assumir o papel da multitarefa, em algum momento a mente da mulher – de tão cansada – irá lembrá-la que ela só é capaz de cumprir uma missão por vez, ou seja, querer ser multitarefa causa estresse e sofrimento a muitas mulheres. Por isso, é algo a ser evitado, não a ser exaltado e elogiado.

Ser multitarefa favorece erros

Cobrar-se por ser multitarefa pode tornar-se uma “frustração sem fim”, se considerarmos que as distrações acabam ocasionando mais falhas, e fazendo com que a mulher exija ainda mais de si mesma, por não estar sendo “perfeita” como gostaria. Ao fazer várias coisas ao mesmo tempo, a mente é dividida entre as diferentes atividades, então, é natural que os erros se multipliquem.

Além disso, pesquisas comprovam que ser multitarefa prejudica a memória de curto prazo. Ao ser multitarefa, a mulher estará alcançando o oposto do que deseja: que tudo esteja sob controle, bem resolvido, etc.

Mito da multitarefa prejudica a saúde mental

Embora o cérebro humano não tenha sido desenvolvido para ser multitarefa, conforme já explicado, a sociedade continua a cobrar que essa seja uma “especialidade” feminina. Resultado? Muitas mulheres sofrem mais que os homens com problemas, como ansiedade e depressão. Estudo recente da Universidade de Melbourne (Austrália) indica que as mães são mais pressionadas pela falta de tempo e relatam mais problemas de saúde mental do que os pais.

Elas também carregam uma carga mental maior ligada às necessidades da família como roupas limpas, quem precisa ser apanhado na escola, se há comida suficiente para o almoço, entre outras questões domésticas.

Carreira das mulheres também pode ser afetada

A obrigação da “multitarefa” pode causar malefícios não somente à saúde mental das mulheres, como também para sua capacidade de se destacar no trabalho remunerado. A dupla jornada das mulheres – que cumprem atividades em casa e fora do lar – se agravou após a pandemia da Covid-19. As mulheres que trabalham foram as mais impactadas pela suspensão das aulas nas escolas.

Segundo pesquisas recentes, entre as mulheres com filhos de até dez anos de idade, a parcela que estava trabalhando caiu 7,8 pontos percentuais- de 58,2% para 50,4%, do terceiro trimestre de 2019 para o terceiro trimestre de 2020. Entre os homens com crianças de até dez anos em casa, a queda foi a metade (4,2 pontos percentuais no período).

Com isso, fica bastante claro o quanto é importante e urgente rever esse “peso” que existe para a maioria das mulheres. É preciso permitir-se falhar, pedir ajuda, e não querer ‘abraçar o mundo com as pernas’ e ser responsável por tudo e todos.

Esse mito é uma grande cilada para as mulheres, e o quanto antes elas tomarem consciência e derrubarem essa crença, melhor será. Só assim será possível alcançar satisfação pessoal e profissional verdadeiras, além de mais saúde e melhor qualidade de vida.

5 provas de que a mulher multitarefa não existe

Por Gisele Miranda, mentora de Carreira & Liderança, autora do recém-lançado livro “A coragem de se apaixonar por você” (Editora Gente) e palestrante. Atua há 25 anos auxiliando mulheres a despertarem 100% de seu potencial na carreira e na vida pessoal, tornando-se protagonistas de sua própria história. Com formação em Psicologia Positiva, Neurolinguística e Neurociências, tem como principal missão fomentar e empoderar as lideranças femininas nas organizações, guiando mulheres e empresas rumo ao sucesso.

Ouça também o RHPraVocê Cast, episódio 126, “Até o ‘bom dia’ vira reunião: é mesmo tão difícil se adaptar à comunicação assíncrona?”. Será que todos os líderes estão, de fato, preparados para se adaptar a um diferente estilo de comunicação? Há solução para as reuniões em excesso deixarem de ser parte do dia a dia?

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