Em um mundo do trabalho que se transforma em velocidade máxima, o RH Summit 2025, realizado nos dias 3 e 4 de junho, não foi apenas um evento, mas um epicentro de debates cruciais. Deixando para trás discussões superficiais, o encontro reuniu mais de 5.400 líderes de Recursos Humanos dispostos a confrontar a realidade: desde os corredores silenciosos onde a liderança tóxica opera, à necessidade de uma cultura que vá além do discurso.

Mais do que números, a edição deste ano finalizou com um chamado à ação, marcada por provocações sinceras que colocaram o papel estratégico do RH em xeque.

Levar o coração para o trabalho

Para João Branco, autor, executivo e palestrante, o verdadeiro sucesso profissional não está apenas em bônus, títulos ou cargos de liderança. Está na sensação de ter sido útil para muitas pessoas ao longo da jornada. "Levar o coração para o trabalho não é sobre encontrar o lugar perfeito, o chefe ideal ou uma empresa 100% humanizada. É escolher, mesmo diante das dificuldades, agir com humanidade, entregar com propósito e reconhecer o impacto que o seu trabalho tem na vida de outras pessoas."

Durante sua palestra, ele defendeu que, ao compreender que existe uma pessoa do outro lado de cada tarefa, e que o nosso trabalho pode mudar realidades, a relação com o ofício ganha novo significado. "Se a nossa motivação está apenas no que vamos receber, acabamos nos frustrando. Mas quando focamos no quanto servimos e no quanto ajudamos, encontramos uma satisfação mais profunda."

Ainda assim, João alerta para o risco de se perder nesse processo quando a relação profissional se torna unilateral. "Assim como um relacionamento amoroso, a relação com o trabalho precisa ser uma via de mão dupla. Se não há reciprocidade, respeito e reconhecimento, é preciso repensar."

Segundo ele, uma das causas mais comuns para a desconexão emocional no ambiente de trabalho está na forma como definimos o sucesso. "Muita gente associa sucesso a cargos, salários e troféus. Mas a definição mais poderosa, e também mais protetora emocionalmente, é aquela em que você olha para trás e sente que foi útil, que deixou marcas positivas na vida de muitas pessoas."

"A Saúde Mental Ainda é um Tabu, Mas a NR-1 Pode Mudar Esse Cenário", afirma Especialista

Para a psicóloga e especialista em saúde mental Atena Nardy, o futuro do trabalho já chegou — e com ele, um nível alarmante de ansiedade, impulsionado pelas rápidas transformações tecnológicas e pela sensação constante de urgência. "Todo dia você acorda e tem um novo agente de IA para aprender. Essa revolução gera ansiedade, e precisamos falar sobre o impacto disso na saúde mental", alerta.

Durante o evento, ela reforçou que ainda existe muito tabu e desinformação sobre saúde mental no ambiente corporativo. "As empresas têm slogans bonitos, mas, na prática, ainda há muito medo de falar sobre o tema. O burnout silencioso é uma realidade, e muita gente esconde o adoecimento por receio de sofrer preconceito ao retornar."

Com experiência internacional, Atena viveu em Israel por 10 anos e compara o cenário brasileiro ao de outros países. "Lá, afastar-se por questões de saúde mental é como se afastar por um problema no coração. Aqui no Brasil, as pessoas ainda escondem até dos amigos que têm depressão, porque são julgadas como fracas ou dramáticas."

A esperança, segundo ela, está na NR-1, norma que obriga empresas brasileiras a criarem programas de saúde mental. "As companhias agora têm um ano para se adequar. E mesmo aquelas que fizerem isso só por obrigação, ainda assim os profissionais serão beneficiados."

A especialista também defende que as organizações reavaliem suas culturas e estruturas internas, desde o processo de desligamento até a escuta ativa dos colaboradores. "Muitas empresas adoecem as pessoas pelo jeito como são organizadas. É preciso treinar o RH para uma demissão mais humana e responsável, e capacitar líderes para criarem espaços de acolhimento, onde os profissionais possam dizer: 'estou mal' — sem julgamento."

Com o Brasil liderando rankings de burnout e ansiedade no mundo, ela acredita que o custo do silêncio já está alto demais. "Precisamos entender que cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo. E as empresas que realmente fizeram esse movimento vão colher os frutos em engajamento, retenção e resultados."

RH TopTalks

Da Geração X à Alfa: Erick Sales explica os choques de mentalidade entre líderes e jovens no Mercado de Trabalho

As mudanças geracionais no mercado de trabalho têm causado um verdadeiro desafio para empresas e lideranças. Quem afirma isso é Erick Sales, palestrante e fundador da Criaz, que tem se dedicado a estudar os impactos dessas transformações no mundo corporativo. Em sua palestra mais recente, ele propôs uma viagem no tempo para entender como cada geração foi moldada por seu contexto histórico — e como isso influencia a forma de encarar o trabalho.

Segundo ele, a Geração X — que hoje ocupa a maioria dos cargos de liderança — foi marcada por um cenário socioeconômico adverso: ditadura militar, inflação elevada, instabilidade política e escassez de oportunidades. Nesse contexto, o trabalho passou a ser encarado como o principal pilar da identidade pessoal. "O sucesso profissional era sinônimo de sucesso pessoal", afirma. A lógica era clara: trabalhar duro, subir na carreira e garantir estabilidade.

Com a chegada dos Millennials, essa perspectiva começou a mudar. A geração que cresceu em um mundo mais conectado e teve acesso à educação e ao discurso da auto realização, introduziu o conceito de "propósito" no ambiente corporativo. Trabalhar com o que se ama, mesmo que isso significasse abrir mão de altos salários ou estabilidade, passou a ser uma meta.

Mas é com a Geração Z que a subversão de valores realmente se consolidou. Para eles, o trabalho precisa fazer sentido, sim — mas também precisa ser justo em termos de remuneração, oferecer benefícios competitivos e, sobretudo, proporcionar equilíbrio. "Eles trabalham para viver, e não vivem para trabalhar", diz Erick. Empresas muito rígidas ou que oferecem apenas "propósito" sem contrapartidas concretas são descartadas rapidamente.

E o que esperar da Geração Alfa, que já começa a dar seus primeiros passos em estágios e programas de formação? Erick aposta que a tendência é de ruptura ainda maior. "Se a Z é nativa digital, a Alfa é nativa do algoritmo", provoca. Para esses jovens, o mundo físico e o digital já não têm fronteiras. Eles vivem hiperconectados, são altamente nichados e exigem experiências personalizadas. Isso representa um novo grau de complexidade para RHs e lideranças, que terão de lidar com profissionais ainda mais imersos em suas individualidades.

O desafio, segundo Sales, é que muitas lideranças atuais ainda operam com a mentalidade da Geração X. Mesmo quando tentam se adaptar, o ritmo das mudanças e a resistência cultural criam gargalos importantes — e caros. "Estamos falando de alto turnover, perda de produtividade, sobrecarga dos que ficam e perda de memória organizacional", alerta.

A solução, para ele, passa por escuta ativa e por criar espaços reais de diálogo entre gerações. Fóruns intergeracionais, conversas francas com quem está na base e uma liderança menos hierárquica e mais humana são fundamentais. "Não adianta discutir os desafios da Geração Z apenas entre diretores. É preciso ouvir quem está vivendo esses desafios no dia a dia", reforça.

Erick também comentou uma pesquisa recente divulgada pelo Infojobs e repercutida pela CNN, que revelou que 95% da Geração Z estaria buscando trabalhos presenciais. Para ele, esse dado pode ser um recorte específico, e não reflete totalmente a tendência. O que a geração realmente busca, afirma, é equilíbrio. "A interação humana é importante, sim, para fortalecer a cultura e o networking. Mas desde que exista flexibilidade. O tempo de deslocamento pesa muito na rotina", aponta.

Em resumo, a palavra-chave para compreender e reter os talentos das novas gerações é equilíbrio — entre produtividade e saúde mental, entre salário e propósito, entre liberdade e conexão. E quem não se adaptar, corre o risco de ficar para trás.

Liderança Tóxica, Cultura Fraca e Salários Pouco Atrativos

Reconhecido como uma das principais vozes do RH no LinkedIn, Richard Uchoa (capa), CEO da Revvo, também esteve presente no RH Summit. Em conversa com o RH Pra Você, Uchoa destacou um ponto que, segundo ele, deve ser o principal foco das empresas em 2025: liderança.

"Tudo começa com a liderança. Sem uma liderança alinhada, treinada e voltada para o ser humano — e não só para números — não há cultura que se sustente. A cultura se destrói", afirmou. Para Uchoa, muitas empresas com bons produtos e propostas competitivas no mercado não conseguem reter talentos justamente porque falham na base: a forma como lideram suas equipes.

Ele destaca que, apesar dos avanços, ainda há uma glamorização da liderança tóxica, baseada no estilo autoritário e impositivo — um tipo "Miranda Priestly", em referência à personagem de O Diabo Veste Prada. "É como se ainda fosse 'cool' ter um chefe mandão. Mas isso tem impacto direto na saúde mental dos trabalhadores", alerta.

Bem-Estar no ambiente de trabalho com cães

No RH Summit, uma das iniciativas que mais chamou atenção foi a atuação do Instituto Reddogs, que leva cães coterapeutas para dentro das empresas como forma de reduzir o estresse e promover o bem-estar dos colaboradores. A proposta vai além da fofura: trata-se de uma estratégia estruturada com base em ciência comportamental e saúde emocional.

Segundo o representante do Instituto, qualquer cão pode ser treinado para atuar nesse tipo de projeto, mas raças com aparência mais amigável têm maior aceitação inicial nas empresas — afinal, o objetivo é gerar acolhimento, e não resistência. O treinamento é rigoroso e personalizado. E mais: quem escolhe sua vocação é o próprio cão, a partir de suas respostas e aptidões comportamentais.

A presença dos cães impacta diretamente na rotina e na saúde dos profissionais, especialmente em contextos de alta pressão ou ambientes corporativos mais rígidos. O Instituto também reforça a importância da educação sobre diferentes tipos de cães de suporte, como os cães de assistência (altamente treinados para funções específicas, como apoio a pessoas autistas ou com deficiência) e os cães de apoio emocional (com papel mais afetivo e sem exigência de certificação formal).

Para atuar como cão de assistência, o processo leva cerca de dois anos e pode custar até R$ 65 mil. Após a formação, esses animais passam por recertificações periódicas para garantir que seguem aptos ao trabalho. Ou seja, é um investimento sério — e que, nas empresas, reflete diretamente em redução de absenteísmo, melhora no clima organizacional e retenção de talentos.

Com a crescente preocupação das empresas com saúde emocional e segurança psicológica, projetos como o do Instituto Reddogs ganham relevância estratégica. Eles contribuem para ambientes mais empáticos e inclusivos, ao mesmo tempo em que educam os colaboradores sobre a presença de animais de suporte nos espaços de trabalho — algo cada vez mais comum no mercado, principalmente em companhias voltadas à diversidade e acessibilidade.

Seja por meio de visitas programadas, parcerias ou ações permanentes, iniciativas com cães coterapeutas ajudam a transformar o bem-estar em vantagem competitiva. Em tempos em que o talento humano é escasso e as exigências sobre o ambiente de trabalho são altas, esse tipo de ação se mostra não só acolhedora, mas estrategicamente eficaz.

Report Sync 2024

Zoho Apresenta o Connect: Como a Intranet Transforma Comunicação Interna em Estratégia de Engajamento e Produtividade

A plataforma Zoho se destaca por integrar fóruns, pesquisas, reuniões e gestão de projetos em um único ambiente digital. Com segmentação de públicos e feeds personalizados, a solução amplia a colaboração entre departamentos, fortalece a cultura organizacional e aproxima todos os níveis da empresa.

Fernanda Bordini Marchi, Head de Marketing da Zoho, apresentou no painel sobre culturas e conexão que a tecnologia deve ser usada para destravar a comunicação e criar uma cultura organizacional mais fluida, evitando o excesso de plataformas que podem atrapalhar o fluxo interno. Ela explicou como a plataforma Zoho Workplace concentra todas as comunicações, facilitando desde treinamentos até processos de onboarding, ao mesmo tempo em que permite segmentar informações para públicos específicos dentro da empresa.

Além disso, Fernanda ressaltou que a Zoho se diferencia no mercado por ser uma empresa "bootstrapped", com gestão focada em longo prazo e forte compromisso com a privacidade. Ao contrário de concorrentes que utilizam dados para publicidade e remarketing, a Zoho garante que os dados dos clientes permanecem privados, reforçando seu posicionamento com diversos selos de segurança e tecnologias anti-spam. Essa postura cria confiança no ambiente corporativo, um ponto cada vez mais valorizado pelas empresas diante das crescentes demandas por segurança da informação no mercado de trabalho atual.

Por Noelle Neves