O Brasil atravessa uma crise de saúde mental no trabalho que já se reflete em números alarmantes. Em 2024, foram concedidas 472.328 licenças médicas por transtornos mentais como ansiedade, depressão e estresse — o maior número em pelo menos uma década. O crescimento foi de 68% em relação a 2023 e já no primeiro semestre de 2025 o País soma 267.690 afastamentos, segundo dados oficiais. O custo ao INSS apenas no ano passado pode ter chegado a R$ 3 bilhões.

Por trás dos números estão pessoas que adoecem em ambientes profissionais marcados por sobrecarga, metas inalcançáveis, falta de pausas e de escuta ativa. Para especialistas, o cenário mostra que o bem-estar deixou de ser benefício opcional e se tornou eixo estratégico de negócios e sobrevivência organizacional.

“Hoje, as estratégias mais eficazes são as que tratam bem-estar como parte de um EVP vivo e integrado, e não como ações isoladas”, explica Fernanda Ferraz, diretora-geral da Wiipo – Senior Sistemas. Segundo ela, o cuidado não está apenas em inovar ou lançar novos programas, mas em criar uma proposta de valor consistente e conectada à realidade dos colaboradores. “Flexibilidade, programas reais de saúde mental, educação financeira, apoio à vida pessoal e uma liderança preparada para acolher e agir são os pontos centrais”, detalha.

Para a executiva, muitas empresas ainda cometem o erro de tratar bem-estar como um “catálogo” de iniciativas desconectadas. “O que não funciona muito bem são iniciativas superficiais, como uma aula de yoga por mês ou aplicativos pouco usados. Os colaboradores esperam propósito, conexões reais e bem-estar de ponta a ponta na jornada. Porém, o que acontece na maioria das vezes é a empresa disponibilizar um grande arsenal de benefícios soltos, sem um propósito claro”, aponta.

Fernanda Ferraz, diretora-geral da Wiipo – Senior Sistemas

Fernanda Ferraz, diretora-geral da Wiipo – Senior Sistemas

Sintomas de culturas adoecidas

A falta de uma visão estratégica sobre saúde e bem-estar se manifesta de forma silenciosa. Fernanda alerta que os sinais de adoecimento cultural aparecem progressivamente: “Entre os mais comuns estão afastamentos recorrentes por saúde mental, alto turnover em áreas de pressão, equipes silenciosas com baixo engajamento e exaustão generalizada. Muitas vezes, esses sinais passam despercebidos porque as empresas ainda monitoram apenas indicadores financeiros, negligenciando os humanos.”

Glaucia Saffa, CMO da NAMU, reforça que o risco maior é quando o bem-estar é tratado apenas como “benefício”. “Nesse caso, segundo ela, ele vira um extra, sem impacto real. A executiva orienta que é preciso integrar o tema aos valores da empresa, ao compliance e ao dia a dia da liderança, uma vez que não adianta o colaborador ter acesso a um benefício se o ambiente de trabalho está deixando ele doente.

Ela também chama atenção para sintomas que passam despercebidos em empresas que, no papel, parecem atrativas: “Podemos ter bons salários, ótimos pacotes de benefícios, mas um ambiente tóxico. Baixo grau de inovação, lentidão em decisões e excesso de centralização podem ser sinais de que a cultura está adoecida. A normalização da insatisfação e da exaustão gera insegurança e medo nos profissionais.”

Na visão de Gian Farinelli, CEO da Onhappy, a normalização do sofrimento é uma das principais armadilhas. “Os sinais estão em todo lugar: queda de engajamento, altos índices de turnover, relatos de esgotamento. Mas muitas vezes são vistos como normais. Escutar parece simples, mas fazer o simples não é simples. O colaborador não sente que sua voz é ouvida, e a cultura adoece sem que a liderança perceba”, afirma.

Gian Farinelli, CEO da Onhappy

Gian Farinelli, CEO da Onhappy

O papel da liderança e do RH

Se os sintomas estão claros, a responsabilidade de estancar a ferida recai principalmente sobre RH e lideranças. De acordo com Fernanda, a primeira mudança é reposicionar o tema dentro da estratégia. “Cultura, estratégia de talentos e liderança formam um tripé inseparável. Se não há alinhamento, o colaborador percebe a incoerência”, diz.

Farinelli concorda e reforça que a cultura não pode ser responsabilidade apenas do RH. “Benefícios isolados não transformam a cultura. A mudança real acontece quando o bem-estar passa a ser parte da estratégia central do negócio. O papel do RH é ajudar a construir essa ponte, mas a liderança precisa ser cobrada e reconhecida pela forma como cuida da saúde dos times”, defende.

A pesquisa The Workforce Institute (UKG) mostra que 70% dos colaboradores dizem que seus gestores têm impacto em sua saúde mental comparável ao de seus cônjuges ou parceiros. Para Gian, o dado mostra o quanto a liderança pode ser fator de cura ou de adoecimento. “Se o líder age com empatia e respeito, isso pode ter impacto tão grande quanto outras relações importantes na vida do colaborador”, completa.

Inovar e personalizar

Para que o bem-estar saia do discurso e se torne prática cotidiana, especialistas apontam que é preciso redesenhar processos e metas. “Antes de criar programas novos, precisamos conectar o que já temos com o planejamento estratégico da organização. Isso cria base para uma estratégia de atração, engajamento e retenção de talentos realmente sustentável”, diz Fernanda.

Ela sugere uma abordagem prática baseada em ciclos ágeis: escuta ativa, cocriação com colaboradores, pilotos rápidos e escalabilidade com ajustes contínuos. “Esse modelo permite que a estratégia se adapte a diferentes gerações e contextos”, afirma.

Farinelli acrescenta que a inovação passa pela personalização. “Hoje não basta criar programas para grupos de colaboradores. É preciso hiperpersonalizar, respeitar a individualidade, as preferências e o momento de cada pessoa. Isso vai além de benefícios: é sobre redesenhar processos para que sejam mais inclusivos, flexíveis e humanos”, argumenta.

O futuro do bem-estar corporativo

Apesar da crise, há otimismo em relação ao futuro. “Estamos avançando, mas ainda de forma desigual. Hoje, vemos multinacionais e empresas de tecnologia puxando a pauta, enquanto grande parte das organizações ainda trata o bem-estar como benefício periférico”, afirma Fernanda.

Ela acredita que os próximos anos trarão integração total de saúde física, mental e financeira, personalização dos pacotes de bem-estar e uso de People Analytics e IA preditiva para antecipar riscos de burnout e turnover.

Glaucia também enxerga um cenário de transformação. “A nova geração chega ao mercado muito mais preocupada com bem-estar. Além disso, as mudanças na legislação trabalhista, como a NR-1 e a inclusão de riscos psicossociais no compliance, vão pressionar as empresas a agirem. Se houver atenção a essas novas exigências, teremos resultados positivos”, diz.

Para Farinelli, a tendência é que o bem-estar deixe de ser diferencial e se torne condição básica para a competitividade. “Uma pesquisa da Deloitte mostra que mais de 80% dos profissionais consideram o bem-estar um dos fatores mais importantes na decisão de permanecer em uma empresa. Isso não é tendência, é sobrevivência. Empresas que não se adaptarem perderão talentos e relevância”, afirma.

Glaucia Saffa, CMO da NAMU

Glaucia Saffa, CMO da NAMU

Conclusão

O diagnóstico é claro: há uma crise de bem-estar no trabalho que já custa bilhões em afastamentos e produtividade. Mas também há caminhos para reverter o quadro. Como resume Fernanda Ferraz, “construir uma Proposta de Valor para o Colaborador relevante é um grande passo — mas sustentá-la e garantir que ela evolua com coerência, impacto e agilidade é o verdadeiro desafio.”

No fim, a pergunta que todo colaborador se faz diariamente resume a importância do tema: “Vale a pena estar aqui?”

Senior Exeperience

Todos os participantes deste conteúdo farão parte do painel “Total rewards e bem-estar no trabalho: novas estratégias corporativas”, que também contará com a presença de Kahoê Guedes, Head de Canais e Parcerias da TotalPass. A atração fará parte do Senior Experience 2025, evento da Senior Sistemas, que está bem perto: dia 7 de outubro, no Transamerica Expo Center.

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Senior Experience 2025

Serviço

Senior Experience 2025

  • Data: 7 de outubro de 2025
  • Local: Transamerica Expo Center
  • Endereço: Av. Dr. Mário Vilas Boas Rodrigues, 387 - Santo Amaro, São Paulo - SP, 04757-020

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