Costuma-se falar em como enfrentar o medo de falar em público, mas a solução começa com a elaboração do problema, quando propomos “De que forma você poderá ter segurança em falar em público?”

Curioso é, nos nossos treinamentos em Comunicação Verbal, e lá se vão mais de 35 anos de atividades nesse campo, quando propomos às pessoas que tem esse tipo de dificuldade, pensarem ousadamente e imaginarem-se tendo prazer, sentindo-se feliz, falando em público, qualquer que seja o tamanho do público.

– “Você ficou maluco?”  “Isso é impossível!” , “Agora você pirou de vez”, são comentários e respostas muito comuns quando proponho esse desafio.

Ainda complementam:  – “Nossa, parece que vou morrer” ou “Fico travado(a) nessa hora”, “acontecem comigo alguma dessas manifestações: tremedeira, gagueira, sudorese, taquicardia, branco, vontade de sair correndo”.

Curioso é que quando criamos um projeto, e caminhamos nessa direção, transformações começam a acontecer o que eu batizei de “pequenos milagres”. Para algumas pessoas, dizem que aconteceu um grande milagre.

Tenho observado, ao longo da minha carreira, tendo treinado a partir da Passadori, minha escola, mais de cem mil pessoas em cursos de comunicação, quer seja presencialmente ou virtualmente, que as transformações são possíveis e factíveis para todas as pessoas que assim o desejarem. Essa é a razão dessa reflexão que espero que seja útil para todos aqueles que sentem algum tipo de desconforto quando tem a missão ou a oportunidade de fazer uso da palavra em público.

Vou apresentar um método simples, mas poderoso que tem apoiado milhares de pessoas nessa transição, transformando o medo em prazer, o desconforto em segurança, a fuga em oportunidade, a submissão em empatia, a timidez em extroversão e naturalidade.

Primeiro, vamos entender um pouco esse famoso medo de falar em público. “Glassofobia” é o nome técnico para esse problema, que vai de um leve nervosismo e outras um sentimento de pânico. Meu respeito e compreensão em primeiro lugar, pois se a pessoa apresenta esse problema há, por trás uma razão para ele eclodir, não só na hora de se apresentar diante de tantas pessoas, mas no simples fato de ser convidada ou de se imaginar em pé, em um palco ou sala de aula ou em uma reunião, diante de uma plateia.

As causas são inúmeras, dentre as quais destaco:

  • Excessivo amor próprio, impedindo que a pessoa corra o risco de mostrar alguma fraqueza ou fragilidade ou algum tipo de problema real ou imaginário.
  • Falta de experiência. Se a pessoa não teve experiência, não aprendeu a lidar com a situação psicológica e, de repente, fica em evidência, com todos os olhares direcionados para ela, reconheço que não é fácil lidar com essa situação.
  • Ausência de técnicas de oratória ou de comunicação, tais como não saber usar a voz de maneira adequada, nem fazer gestos, nem organizar as ideias ou contar histórias.
  • Limitações relacionadas a gramática e vocabulário. Infelizmente observamos muitos alunos formados por universidades com grandes dificuldades relacionadas a formulação de frases simples ou ausência de vocabulário para expressar o que pensa ou sente.
  • Perfeccionismo, ou seja, não ser permitir ao erro ou a simples ou grandes deslizes, correndo o risco de mostrarem algum tipo de fragilidade tão comum em quem fala.
  • Traumas psicológicos, que são sequelas emocionais deixados por uma experiência que causou imensa dor ou sofrimento, gerando, como consequência a sensação de que tudo acontecerá da mesma maneira quando na iminência de falar ou fazer algo semelhante à experiência geradora do trauma.
  • Preguiça, pois para enfrentar esse problema algum esforço é necessário e, para muitos, ficarem acomodados na zona de conforto, é mais cômodo e não precisarão se esforçar para enfrentar essa dificuldade.

Não pretendendo resolver todos esses problemas, mas oferecendo recursos que poderão ser úteis nesse contexto, mesmo que seja para iniciar uma jornada mais difícil para alguns, mas simples e poderosa para todos, apresento o método F.A.L.A.R. , criado e desenvolvido por mim, no convívio com milhares de alunos e muitas horas em sala de aula,  e tem sido um excelente caminho para quem percebe a importância da comunicação verbal como um dos principais recursos para quem deseja crescer pessoal e profissionalmente e, principalmente, para quem deseja sair de um estágio atual para um estágio mais elevado na empregabilidade e na arte de falar bem, com calma, segurança, naturalidade e técnica em qualquer contexto, quer seja em uma simples reunião com poucas pessoas, sentados em uma mesa redonda até em uma sala de treinamento ou em uma plateia com um número médio de pessoas e, por que não, em um auditório com milhares de pessoas presenciando e, ao final, aplaudindo a sua apresentação.

F.A.L.A.R., na realidade, é um acróstico, e cada uma das letras é uma das etapas desse método. Funciona assim:

F – Finalidade

A – Análise

L – Lapidação

A – Avaliação

R – Resultado

A Finalidade (F)

É a fase na qual se define o objetivo a ser atingido. É o momento da ousadia, de se pensar em um objetivo grande, por exemplo, nos benefícios que um desafio dessa natureza irá proporcionar, tais como glamour, sucesso, melhores salários, crescimento profissional etc.

A Análise (A)

É o levantamento das condições atuais, intelectuais, emocionais, psicológicas, físicas, recursos, vontade, entusiasmo, valores. Em síntese tudo aquilo que impediu até agora para que o objetivo não fosse atingido e o que é necessário desenvolver para esse propósito.

A partir daí se faz um plano de ação para a etapa subsequente.

A Lapidação (L)

É a fase de se colocar em ação o plano definido, quer seja buscando ajuda, fazendo um trabalho de mentoria, um curso, acreditando que essa seja a forma mais prática, pois se fosse algo tão simples, cada um teria enfrentado o problema sozinho. Possível é, mas o trabalho é muito maior.

De qualquer forma, os recursos fundamentais nesse contexto, invariavelmente são:

  • Recursos psicológicos, tais como a autoestima, autoconhecimento, percepção das qualidades já existentes, trazê-las para a consciência, aperfeiçoá-las ainda mais. Pensamentos positivos podem ser um grande aliado nesse sentido, como por exemplo:
  • Confio em mim mesmo e sei que vou dar conta desse objetivo.
  • Sinto-me preparado e tenho capacidade para empregar minha inteligência e criatividade para superar esse medo.
  • Desejo ter prazer de influenciar e impactar positivamente as pessoas que me ouvirem.
  • Acredito na minha capacidade de superação.
  • Posso tanto quanto qualquer pessoa de sucesso pode.

Além disso, perceber a importância do uso da voz, dando vida à fala, expressando emoções, expressando no meu corpo, com meus gestos, expressão facial, expressão corporal de maneira congruente com o conteúdo e contexto.

Desenvolver uma estratégia de raciocínio clara e lógica, congruente e objetiva, utilizando uma linguagem simples, contando histórias, utilizando de ilustrações para facilitar a compreensão das pessoas, tornando minha apresentação leve e atraente.

A fase seguinte é a Avaliação (A), que não precisa ser fazer uma única apresentação em público, mas percebendo as situações do dia a dia para observar o progresso obtido, avançando gradativamente até que a finalidade (F) tenha sido atingida.

Por fim, tendo o resultado (R) alcançado, é hora de se perpetuá-lo e definir uma nova etapa de desenvolvimento com um novo objetivo maior ainda e, assim, sucessivamente.

Não se atinge a excelência sem a prática. Quando vemos um atleta competindo em uma olimpíada, sabemos que por trás da sua demonstração e competição há muitas horas de exercícios, muitos sacrifícios, horas e horas de condicionamentos. Por isso, sugiro exercitar bastante, começar devagar, ir aumentando as dificuldades ao longo do tempo, buscando desafios cada vez maiores, falando ao invés de calar, errando e não se importando com os erros, mas aprendendo como evita-los nas próximas vezes, aprendendo a relaxar, a meditar, a utilizar o mindfulness, pedindo feedback para perceber seus acertos e erros a partir da percepção de outras pessoas.

Um bom lema é ter sempre a força de vontade como companheira e a crença de que tudo que podemos conceber e imaginar nós podemos alcançar.

Desejo a você muito sucesso nas suas atuais e futuras e prazerosas apresentações em público.

Reinaldo Passadori, Professor de Oratória e Escritor, Mentor, fundador e CEO da Passadori Comunicação, Liderança e Negociação. Adaptação do seu livro ‘Quem Não Comunica Não Lidera’ – Ed. Passadori. É um dos colunista do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.