Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou o resultado do VIGITEL que é uma pesquisa telefônica sobre hábitos de saúde que é realizado anualmente há 14 anos. Constatou-se que mais da metade dos brasileiros adultos estão acima do peso e um a cada 5 pessoas é obesa. Além disso, cerca de um quarto dos brasileiros tem pressão alta e 7,4% têm diabetes. Estes dados chamam mais a atenção atualmente pois estes fatores aumentam o risco de desenvolver complicações pela infecção de COVID-19, o novo coronavírus.

A propósito, neste momento de pandemia e quarentena é propício para se pensar como é feita a atenção à saúde nas corporações.  O tema não é estratégico e é abordado de maneira fragmentada nos check-ups executivos, nos exames periódicos da medicina do trabalho ou nas campanhas educativas. Se questionarmos aos gestores (inclusive de saúde) das empresas qual é o perfil de saúde de sua população, provavelmente a maioria desconhece as pessoas que possuem fatores de risco (como pressão alta, obesidade, diabetes, tabagismo) ou doenças crônicas e só descobrem quando o empregado falta ao trabalho ou é internado.

E, neste contexto, é curioso quando ouvimos falar em eventos de recursos humanos que a saúde “é o segundo item de despesa após a folha de pagamentos”. Na verdade, o item de despesa é a doença resultante de uma má gestão em saúde da população-alvo. Melhor saúde da população não se obtém com medidas de auditoria de contas, coparticipação nas despesas ou restrição de acesso a serviços.

Ter trabalhadores saudáveis, engajados e produtivos na empresa somente se consegue se houver uma cultura de saúde onde se cria um ambiente de trabalho em que a saúde e segurança dos trabalhadores é valorizada, apoiada e promovida através de programas, políticas, benefícios e ambientes de suporte relacionados à saúde e bem-estar.

Neste contexto, é importante a coordenação do cuidado com indicadores de processo bem estabelecidos, sem fórmulas mágicas. Nos últimos dias temos visto mais uma solução milagrosa que seria a adoção da telemedicina, a qual trará poucos resultados nos médio e longo prazos se for uma ferramenta isolada do sistema de saúde, que não acompanha a jornada da saúde das pessoas ao longo da vida.

Somente a área de recursos humanos pode integrar os diferentes atores na empresa para uma ação integrada que torne a saúde estratégica os objetivos das organizações. Finalmente, vale a pena uma atenção especial para a saúde dos trabalhadores que estão em “home office” pois eles estão sendo pouco acompanhados, frequentemente estão sobrecarregados com as atividades profissionais, cuidados em casa e a carga física e emocional adicionais. Caso não se procure oferecer suporte, inclusive avaliando o estado de saúde destas pessoas, há o risco de que retornem em piores condições, reduzindo a produtividade, aumentando o absenteísmo e os custos assistenciais.

Por Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação