Em primeiro lugar, quero deixar claro que sou totalmente a favor do home office! A favor de um modelo híbrido de trabalho, que possibilite compatibilizar os afazeres profissionais com os pessoais. Que traga maior qualidade no uso do tempo das pessoas e, consequentemente, melhor produtividade em todos os aspectos!

Posto isso, lembro que o home office sempre foi pleiteado por muitos profissionais. É fácil elencar os diversos ganhos, principalmente, no que tange ao tempo perdido no deslocamento do trajeto de casa ao trabalho, nas grandes cidades.

Por outro lado, sempre houve resistência em grande parte das empresas e instituições, principalmente as públicas; sob o argumento da perda de produtividade, perda de controles, perda de foco, enfraquecimento da cultura da empresa, gestão do conhecimento e porque, em muitos casos, intensifica a falta de integração entre as equipes.

A verdade é que esse receio é fruto do modelo mental e de gestão que estão presos ao passado. Muitas empresas (diga-se “gestores”) têm receio de perder o controle do que seus empregados estão fazendo ou deixando de fazer. Acredita-se, ainda, que o bom profissional é aquele que chega primeiro e sai por último do trabalho! O modelo de gestão ainda é baseado em tarefas e não em resultados… mas, não vou me prolonga nisso… até pode ser um tema para outro artigo!!!

Voltando a questão do home office, há pouco mais de 1 ano, em 13 de março de 2020 (uma fatídica sexta-feira), praticamente todas as empresas foram forçadas a adotar o modelo de home office, por conta da pandemia do COVID-19. O lockdown foi adotado pelas autoridades!

Claro que já existiam empresas com essa prática, mas não para 100% dos colaboradores e muito menos 100% do tempo.

Da noite para o dia, escritórios ficaram vazios e as pessoas tiveram que adaptar rapidamente suas casas, arrumando o tal “cantinho de trabalho”.

O que, num primeiro momento, era um desejo de muitos, acabou virando um pesadelo de outros tantos.

Inúmeros desafios surgiram. Parte dos líderes e gestores se viram perdidos, tendo que gerenciar equipes à distância. Trabalhadores tiveram que aprender a gerenciar suas rotinas, mudar hábitos, aprender a usar novas ferramentas e tudo mais…

As empresas se mobilizaram, disponibilizando o mínimo de infra estrutura de trabalho para seus colaboradores atuarem de casa… Enviaram cadeiras, mesas, computadores, impressoras… Atualizaram sistemas e rotinas, inclusive no que tange à proteção de dados e à segurança das informações.

Todos foram se adaptando, encontrando caminhos, alternativas… e… trabalhando cada vez mais!

A tal economia de tempo do deslocamento diário, logo foi compensada pelo aumento do volume de trabalho. Num primeiro momento até foi compreensivo, pois a adaptação de todos e as circunstâncias gerais forçavam isso.

Ao longo dos meses, gestores foram “invadindo” a casa de seus subordinados…. a qualquer hora e em qualquer momento.

Ouvi relatos de alguns profissionais dizendo que a “norma” da empresa era para que ficassem conectados ao Zoom / Teams o dia todo, inclusive, com as câmeras ligadas. Vi agendas de compromissos com reuniões encavaladas, uma em cima da outra, sem qualquer tipo de intervalo.

Com o passar do tempo, as empresas voltaram a abrir seus escritórios, a maioria em regime híbrido de trabalho, ou seja, a semana foi dividida em dias de home office e dias de ir ao escritório.

Porém, alguns desses trabalhadores não podiam voltar para o escritório, muitos por fazerem parte do grupo de risco ou morarem com pessoas do grupo de risco.

Foi aí, que apareceram casos explícitos de assédio!

Uma certa instituição, revogou o home office fazendo com que todos voltassem a trabalhar presencialmente em sua sede. Divulgou novos protocolos de segurança e disse que aqueles que não pudessem retornar por serem grupo de risco, teriam que apresentar um laudo médico, justificando e recomendando o trabalho remoto, ou seja, teriam que comprovar sua situação para continuarem em home office!

Naquele momento, essa instituição simplesmente resolveu esquivar-se de sua responsabilidade, deixando a cargo de cada um a decisão.

Alguns foram atrás do laudo médico, outros, mesmo sabendo que eram do grupo de risco, resolveram voltar ao trabalho presencial.

Isso, obviamente, começou a gerar um clima negativo, de desconfiança, pois a gestão insinuava que apenas quem estava trabalhando presencialmente era produtivo. Que havia pessoas, fazendo “corpo mole”, aproveitando-se do pretexto da pandemia para ficar em casa.

E assim, o conflito, ente os membros da equipe, foi inevitável. Fofocas e indiretas começaram a fazer parte do dia a dia!

Foi quando o tal “gestor”, teve uma “brilhante” ideia…. determinou que todos que estivessem em home office, teriam uma sobrecarga de trabalho, sob a justificativa de que, como não tinha que se deslocar até o trabalho, poderiam produzir mais!

Sim, isso aconteceu… é verídico! Mas, felizmente, esse tipo de comportamento não é a regra e sim a exceção.

Muitas empresas optaram por proteger, preventivamente, sua força de trabalho, seus talentos, suas equipes! Essas empresas, assumiram seu papel e adotaram práticas condizentes com o momento.

Presenciei excelentes iniciativas empresariais. RHs que atuaram de forma brilhante. Pude contribuir com algumas empresas, ajudando os líderes a estarem cada vez mais próximos de seus liderados, mesmo estando fisicamente distantes! Aliás, é bom reforçar o que constato diariamente… não é a presença física que conecta o líder a sua equipe.

Vi empresas liberando o home office, não apenas para quem é do grupo de risco mas, também, para quem tem filhos em idade escolar. Ou, simplesmente, para aqueles que realmente não precisam estar fisicamente no local de trabalho para realizarem suas atividades, diminuindo o fluxo de pessoas nas ruas e no ambiente corporativo. E o mais importante… na maioria das empresas que adotaram tais medidas, percebi que a produtividade aumentou.

Isso mostra que é possível sim fazermos um ambiente profissional mais produtivo, humanizado e com as entregas dos resultados almejados, mantendo a saúde física e mental de todos!

Como já falei no início, sou totalmente a favor do home office… Sou totalmente a favor de deixar as pessoas gerirem seu próprio tempo, desde que, obviamente, entreguem os resultados pactuados!

Chega de infantilizar nossas equipes, nossos profissionais! Vamos crescer, deixar a pré-adolescência e juntos fazermos um ambiente de trabalho mais sadio e feliz.

Sucesso, até breve e viva o home office!

Por Milton Camargo, sócio co-fundador do Grupo Empreenda, consultor & palestrante. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.