Que tensão é esta? Isso que parece que nos puxa de um lado para o outro e nos deixa como bolinhas de pingue-pongue batendo de lá para cá.

Pois é, inevitavelmente a todos nós que convivemos em um mundo no qual a coletividade e a individualidade coexistem, esta tensão é inevitável. Contudo, não insuperável. Na verdade, trata-se de uma tensão positiva. Estou falando do equilíbrio entre os interesses pessoais e os interesses dos grupos aos quais pertencemos, tais como nossa família, nossa empresa, comunidades das quais fazemos parte.

Creio, e até seria ousado em lhe afirmar, que essa tensão faz parte de sua vida também, ainda mais depois da pressão criada pelo contexto pandêmico em que nossa coletividade profissional foi arrastada e inserida a fórceps em nossa individualidade e coletividade familiar.

Muitos de meus clientes apontavam, inclusive, um nível de stress altíssimo, muitos pensando em largar o emprego que tanto gostam e até mesmo preocupados com a relação em suas famílias.

Com aqueles que tive a oportunidade de estar e a honra de ajudar, as orientações foram as seguintes:

1) Em primeiro lugar deve-se reconhecer que essa tensão existe. Parece bem óbvio, uma vez que estamos sujeitos a ela. Contudo, estar sujeito a tal situação e reconhecer sua existência são coisas diferentes. Exemplos são as próprias ansiedade e angústia que se tornam pontos focais e consomem nossa atenção o tempo todo, bem como nossos rins. Reconhecer que a tensão está presente é entender que este stress angustiante é sintoma e, por isso mesmo, não são eles que precisam ser tratados e sim, a tensão em si.

2) Em segundo lugar, deve-se acolher essa tensão, pois, afinal, ela realmente é positiva. Acolher significa dar um significado bom a ela. Entender que este aparente cabo de guerra entre o que eu quero e o que nós queremos gera um equilíbrio saudável, permitindo que todos saiam ganhando deste processo.

 

3) Em terceiro lugar e, então, a parte mais profunda, na qual de fato tenho colocado meus esforços na hora de ajudar meus clientes e alunos é trazer à tonas os elementos que geram tal tensão. A saber:

  1. Ambição Individual. Precisamos definir o que queremos de concreto. Não estou falando dos objetivos da empresa, estes vêem depois. Trata-se do que você quer de fato construir, seja uma posição na empresa, algo material como casa, carro ou até mesmo, e em muitos casos, a sobrevivência, que mais do que uma reação instintiva precisa entrar no âmbito do pensar claramente, transcendendo a reatividade.
  2. Legado individual. Se a ambição trata do que é SEU desejo pessoal, o legado cuida da sua relação com o outro. Perceba que ao trazer para a mesa e de fato colocar no papel qual a sua intenção de legado, você automaticamente considera o outro e por isso gera a linha que conecta o individual ao coletivo. Esta memória de impacto que você deseja deixar no outro é seu grande segredo para coexistir com esta inevitável tensão.
  3. Seus valores. Sim, os velhos e bons valores, mas essenciais para quem quer de fato transcender esta tensão e sobressair este stress angustiante. Contudo, a pegadinha aqui é que, como disse Viktor Frankl, “… valores, no entanto, não podem ser escolhidos e adotados por nós num nível consciente – constituem algo que nós somos.” (“Em Busca de Sentido”, página 168). Por isso, uma simples lista de valores que você escreve ou de onde você apenas seleciona sem uma condução adequada tendem a lhe trazer mais problemas e conflitos internos. Acessar seus valores é acessar você próprio, então já se percebe que melhor fazê-lo com uma metodologia.

Uma dica: perceba o padrão de tomada de decisão que você tem e este padrão deve ser observado em contextos homogêneos, pois contexto influencia a hierarquia de valores.

Do lado do coletivo, vamos agora olhar para a empresa:

  1. Ambição da empresa. Isso é aquilo que de fato ela está buscando de concreto através de suas atividades e transações. Inovação, aumento de vendas, melhora no percentual do EBITDA, aperfeiçoamento de suas tecnologias, tudo isso junto e muito mais.
  2. Legado da empresa. Talvez a sua companhia tenha processos de Experiência do Consumidor e Experiência do Empregado. Se sim, o legado está ai! Se não, procure levantar qual a intenção da empresa, entenda-se dos líderes, como memória que pretendem deixar, tanto nos empregados como nos clientes e sociedade. Como queremos ser lembrados a cada interação.
  3. Valores da empresa. Esqueça o que está escrito, ao menos até você validar. Para isso, fique atento e atenta às tomadas de decisão. Liste ao longo de uma semana todas as decisões que foram tomadas, seja na sua presença ou das quais você tomou conhecimento. Nas decisões você irá extrair os valores reais, pois valores servem na prática para isso, balizar nossa tomada de decisão. Por fim, observe na sua companhia quais são as regras e quais são as métricas de fato em prática. Insisto, de fato em prática, pois tais como os valores, algumas regras e métricas acabam desrespeitadas.

Com todos estes dados em mãos, confronte com seus próprios “dados” pessoais e muito da tensão se fará clara e assim, melhor administrável.

Desejo sucesso nessa tensão positiva e que sua vida se integre dia após dia e você saia do piloto automático e assuma a direção na via expressa da realização.

Pra você que chegou até aqui no texto, algumas dicas.

Dica de leitura: “Liderança e Propósito”, por Fred Kofman.

Dica de série na Netflix: “Cobra Kai” – Sensacional para avaliar valores, legado e ambição.

Dica de Músicas para aquecer: Visite a pasta “Músicas Integradoras”, no Spotify.

Por fim, se você é atuante e deseja ressignificar o (seu) mundo, venha para o Canal Integradores, no Telegram.

Sucesso ao viver sua vida e que não seja uma mera existência!

Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.