Esta matéria surgiu da indagação de um aliado, em potencial, e eu a dedico às pessoas brancas de vários tons, que estão se sentindo incomodadas com o “status quo” da desigualdade, discriminação e racismo, cada vez mais evidentes em nossa sociedade e querem fazer parte da mudança.

Ser Antirracista

Antirracista é o indivíduo que se insere, conscientemente, em um processo de ação e oposição ativa ao racismo. O objetivo do antirracismo é desconstruir a situação vigente, que normatiza e perpetua práticas racistas dentro de uma sociedade estruturalmente desigual. Estudo sobre Desigualdade Social no Brasil, apresentado pela OXFAM em 10 de dezembro de 2024, evidencia desigualdades estruturais profundas. Vamos apontar apenas uma das desigualdades, mas a que move toda a cadeia: os rendimentos. Mas, existem pessoas com as quais convivemos e que podem nos ajudar a realizar a travessia da ponte entre o racismo e a convivência respeitosa, que impulsiona para o acesso aos direitos e à vida com dignidade. Você as conhece? Na minha trajetória encontrei várias pessoas brancas, outras nem tão brancas e algumas branquíssimas, que conviveram, convivem, conviverão comigo e, por elas, entrei, entro, entrarei em ambientes tidos como impróprios a minha permanência, uma mulher negra de cor preta.

Buscar aliados, aliadas, aliades é uma estratégia de oportunidade; ou seja: identificar pessoas-chave que compartilham de nossos valores, são empáticas, incomodam-se com a situação estabelecida e podem até nem saber o que e como fazer acontecer mudanças, mas sabem escutar, estão abertas a aprender de forma crítica, questionando a causa; se verdadeira ou “fake”.

Dessas pessoas, encontrei várias que sofriam com as minhas dores, importavam-se com as injustiças, quando sabiam que eu deveria ser escolhida, acolhida e, sem causa justificável, era preterida. Essas pessoas incomodavam-se com os olhares enviesados dirigidos às minhas costas. Como disse Milton Santos, negro, geógrafo vencedor do Prêmio Vautrin Lud, o Nobel de Geografia, o único brasileiro a conquistar esse prêmio: "Ser negro no Brasil é, com freqüência, ser objeto de um olhar enviesado” Citarei apenas uma pessoa antirracista como referência (mas temos muitas outras mais) por ser uma figura pública, conhecida: Theo van der Loo (ex-presidente da Bayer), que relatou um caso de racismo como uma história "inaceitável e revoltante" de preconceito racial. Disse Theo: "Um conhecido meu, afrodescendente, com uma excelente formação e currículo, foi fazer uma entrevista. Quando o entrevistador viu sua origem étnica, disse à pessoa de RH que ele não sabia deste detalhe e que não entrevistava negros!". No post no LinkedIn, Theo van der Loo conta ter sugerido ao amigo que fizesse uma denúncia. A vítima avaliou que seria melhor não expor o caso por medo de "queimar" sua imagem. "Sou de família simples e humilde, custou muito para chegar onde cheguei", justificou. "Eu conheço o mapa mental do empresariado brasileiro, e, no Brasil, qualquer tipo de agressividade pode acabar se voltando contra você. Você pode rapidamente ser visto como 'vitimista' ou como um 'cara problema". Desde então, Theo van der Loo tem se dedicado à causa antirracista, se comportando como tal, sendo exemplo e arregimentando inúmeros CEOs. Conheço Theo e tive a oportunidade de dividir com ele várias experiências exitosas, entre as quais destaco a realização do Programa da Diretoria de Diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos, quando fui, pessoalmente, a dezessete estados deste país, na condição de Diretora de Diversidade, atividade voluntária, realizando eventos abertos ao público vinculados ou não a empresas públicas e privadas. O aliado é um antirracista. É alguém que procura saber, para início de conversa, o que é epistemicídio. Epistemicídio: É o apagamento sistemático de produções e saberes produzidos por grupos oprimidos” - Prof. Djamila Ribeiro O aliado sabe que somos todos originários da mãe África, berço da humanidade, que inspirou o mundo e compartilhou suas riquezas: dança, música ,culinária, religiões, idioma, cultura e saberes nas áreas das diversas ciências. Estes saberes científicos são pouco divulgados, pois nivelariam a importância das contribuições para a humanidade, que na visão do racista, são uma exclusividade branca.

O que não é divulgado

Que o pai da medicina não foi Hipócrates, mas o Imhotep, médico negro que viveu dois mil anos antes do médico grego.

O que precisa ser conhecido: Pangeia

Pangeia, palavra originária do grego que significa "terra", foi um supercontinente que reunia a maioria dos pedaços de terra do planeta, há 225 milhões de anos. A existência e fragmentação da Pangeia (terra) são explicadas pelas teorias da “deriva continental e das placas tectônicas”, que alteraram a geologia e deram origem a diversos continentes, supercontinentes, bem como impactaram na evolução dos animais, plantas e seres humanos. Os aliados sabem que “todos os seres humanos compartilham um ancestral em comum que viveu há cerca de 200.000 anos, na África". Mas, o que teimam em nos ensinar é decorrente de outra origem única; “ todos filhos de Adão e Eva”. Adão e Eva, brancos. E os negros? Precisamos atrair mais e mais aliados anti: racismo, discriminação, desigualdade e ódio, porque a causa é de todos e não foram as pessoas negras que criaram o racismo. Estamos demonstrando como podemos e vamos ultrapassar a desigualdade imposta às pessoas negras (pretas e pardas) neste país: pelo acesso à educação. Para os descrentes, um resultado animador: se em 2011 as pessoas negras eram 40% em universidades públicas, em 2019, representavam 51%, a partir das cotas raciais, de acordo com o Inep. "A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las." - Santo Agostinho, citado por Dani Souza, Linkedin Por Jorgete Lemos, CEO da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria Organizacional. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.