Há alguns dias assisti pela TV a entrevista de uma gestora de RH, autointitulada “Diretora de Felicidade”, enaltecendo a preocupação com a felicidade dos funcionários como chave para um elevado desempenho. “As pessoas produzem mais e melhor quando estão felizes!”

Claro que o objetivo maior do RH é harmonizar o relacionamento empresa / empregado, o que se busca com boas normas de gestão de pessoas, incluindo remuneração razoável, benefícios, oportunidades de progresso, liderança e respeito, procurando um elevado nível de motivação pessoal. Esses são os recursos normalmente empregados, mas felicidade é algo muito pessoal, e escapa à gerência externa.

Certamente, os ensinamentos de psicologia são muito valiosos para obter-se elevados níveis de satisfação pessoal, o que pode ser estimulado por meio de um Seminário de Desenvolvimento Comportamental, que apliquei com muito êxito.

O que é a Felicidade?   

Psicologia Humanista

Segundo Maslow, uma personalidade saudável, dotada de um forte sentido de identidade pessoal, bem ajustada e capaz de viver confortavelmente consigo mesmo e com os outros depende da satisfação dos cinco níveis de necessidades: fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e realização.

Alguns autores resumem as necessidades humanas em: biológicas (relacionadas à vida material), psicológicas (relacionadas à vida mental) e social (relacionadas à vida de relação).

Para os Humanistas, será feliz quem suprir razoavelmente tais necessidades.

Psicologia Positiva

O psicólogo americano Martin Seligman, um dos criadores da Psicologia Positiva e autor do livro “Felicidade Autêntica”, descreve felicidade como um estado consistente de “emoções positivas”, e “atividades positivas”.

Ele especifica as “emoções” relacionadas ao passado, presente e futuro da seguinte forma:

  • Emoções positivas ligadas ao passado incluem satisfação, contentamento, orgulho e serenidade a respeito das atitudes anteriores;
  • Atitudes que resultem em prazer e gratificação no presente;
  • Confiança, otimismo e, esperança quanto ao futuro.

Resumindo, para Seligman, será feliz aquele que aliar a satisfação e orgulho pelo que já fez, ao prazer encontrado em seus atos do dia a dia, e à confiança e otimismo em relação ao futuro. A mais profunda sensação de felicidade é experimentada “quando agimos conforme nossas fortalezas e virtudes, com um propósito maior do que nossas metas imediatas”.

Teorias místicas e religiosas

Estudos feitos pelo Instituto Gallup, pelo Centro Nacional de Pesquisas de Opinião (National Opinion Research Centre – USA) e pela Pew Organization (USA), divulgadas pela BBC e Time Magazine, revelaram que pessoas religiosas são mais felizes e menos estressadas do que as que não possuem religião.

A fé religiosa confere aos adeptos uma relativa consolação em face das aflições da vida, o que facilita a aceitação dos fatos e alimenta esperança em dias melhores, nesta ou na vida eterna. O mesmo estudo revela que as pessoas espiritualizadas afirmam ser “muito felizes” numa frequência duas vezes maior do que as demais!

Na tradição católica, Santo Agostinho afirma que “todos os homens querem ser alegres e felizes, mas a verdadeira alegria vem de Deus”! Para Agostinho, a felicidade é um dom de Deus; não obstante, o homem deve procurá-la através da purificação da alma.

No Budismo, os ensinamentos básicos recomendam evitar o mal, fazer o bem e cultivar a própria mente, além de ressaltar como objetivo principal, evitar as aflições próprias da vida material. O praticante é induzido a uma vida altamente espiritualizada, cuja disciplina moral e a meditação conduzem à sabedoria.

Uma vez atingida a compreensão das “Quatro Nobres Verdades”: Sofrimento devido ao apego, Origem do Sofrimento devido à cobiça e ao prazer, Cessação do Sofrimento pela renúncia, e o Entendimento Correto, que por sua vez se desdobra em oito vias: Entendimento Correto, Pensamento Correto, Linguagem Correta, Ação Correta, Modo de Vida Correto, Esforço Correto, Atenção Plena Correta e, Concentração Correta, o praticante atinge um estágio de elevação espiritual em que não há sofrimento, com consciência plena e purificada.

Em muitas tradições místicas, especialmente nas que promovem técnicas espirituais avançadas, a felicidade é conceituada como “total equilíbrio das energias do corpo e da alma”.

Filosofia

Para o filosofo grego Aristóteles (384-322 A/C), felicidade é o objetivo final da existência humana, porém é muito difícil chegar a uma definição amplamente aceitável. Para uns é sinônimo de prazer físico, para outros, o prazer íntimo de poder, honrarias ou riquezas. Na realidade, são bens externos que pouco vale por si mesmo. Possuí-los não garante a felicidade, embora permitam nos aproximar desse estado almejado. Numa visão pragmática, Aristóteles conclui que, sem certos bens, a felicidade é quase impossível.

Segundo o escritor e filósofo alemão Thomas Mann (1875-1955), “aquilo que chamamos felicidade consiste na harmonia e na serenidade da consciência, ou seja, na paz da alma”.

Emile-August Chartier, filósofo francês que escrevia sob o pseudônimo “Alain” (1868-1951), concorda com essa definição quando afirma: “A felicidade não é fruto da paz, é a própria paz”!

Fisiologia

A ciência admite que o estímulo de determinadas partes do cérebro leva o sistema límbico a produzir certos neurotransmissores, provocando reações químicas relacionadas ao prazer, alegria, cólera, medo, tristeza etc. Em outras palavras, determinados estímulos promovem reações psíquicas e físicas conforme os interpretarmos, levando a uma sensação de “bem-estar” ou a um “mal-estar” enquanto durar sua ação.

Assim, em termos fisiológicos, a felicidade é objetivamente mensurável. O estado de ânimo tem um componente fisiológico real: o neurotransmissor “dopamina” que é frequentemente relacionado ao prazer. Experiências de laboratório usando ratos geneticamente alterados, incluindo alguns com produção deficiente de dopamina, detectaram uma grande influência desse neurotransmissor nos estados de “felicidade”.

Estudos recentes comprovaram que as relações afetivas estáveis, inclusive com animais de estimação, estimulam a produção de endorfina e serotonina, levando a um estado de “felicidade” e melhora geral de pessoas enfermas!

O neurocientista R. J. Davidson desenvolveu testes confiáveis para quantificar o nível subjetivo de felicidade por intermédio de ondas medidas pelo Eletroencefalograma.

O Dr. Stefan Klein, em seu livro “The Science of Happiness”, associa essas reações fisiológicas aos conceitos e pressupostos da Psicologia Positiva.

Conclusão

Nem os prazeres mundanos, nem a satisfação de todas as necessidades, nem uma vida de realizações ou virtuosa, garante felicidade estável.

Quantas pessoas preenchem ao excesso todas essas demandas, e ainda assim não se declaram felizes. Por outro lado, quantos outros vivem com falta de recursos materiais e socialmente excluídos, mas nem por isso demonstram infelicidade! Até mesmo pessoas enfermas afirmam ser felizes quando em paz consigo mesmas.

O ser humano física e psiquicamente saudável é naturalmente feliz! Nascemos felizes – observe as crianças – e, se não nos desequilibrarmos no decorrer da vida, temos tudo para ser feliz. Todavia, sofremos impactos emocionais que nos entristecem e, se permitimos que tais estados permaneçam por muito tempo, adoecemos. A contínua sensação de tristeza é um distúrbio psicológico. A fisiologia sugere que muitas doenças físicas resultam de um prolongado distúrbio emocional (doenças psicossomáticas).

Se alimentarmos a autoimagem de um ser infeliz, é isso que vamos ser; não importa o que ocorra em nossas vidas. Levamos a vida que concebemos; nosso inconsciente nos dirige de forma automática ao objetivo que lhe fixarmos!

Uma vez confuso e com ideias equivocadas sobre si mesmo, não será fácil retornar ao equilíbrio inicial e recuperar a felicidade perdida. Para o viciado física e mentalmente em autopiedade, voltar a ser feliz é árdua tarefa individual. Na realidade, muitos até se resignam em ser assim, por não saber que poderiam ser diferentes e viverem melhor.

Ressalte-se que o estado mental de felicidade é reflexo de nosso inconsciente, independentemente de fatores externos. Ser feliz ou infeliz é uma decisão pessoal, uma atitude diante de fatos comuns a todos. Se não podemos mudar os fatos, podemos adotar atitudes mentais adequadas.

O estado de “felicidade” é, conforme todas essas definições, decorrente do perfeito equilíbrio emocional, tendo como consequência, a produção ideal dos humores que promovem o bem-estar físico e mental. Mas, se não somos felizes, como reconquistar e manter esse equilíbrio? Como gerar uma autoimagem de felicidade?

Certamente todos já experimentamos a sensação de felicidade resultante de um gesto bom ou da realização de algo importante para si; momentos em que nos sentimos “felizes”.

O que produz essa sensação de felicidade é a percepção de valor pessoal. Vemo-nos e sentimo-nos   como uma pessoa de valor, em paz com sua consciência, realizada e radiante! Essa autoimagem “fixada” em nosso inconsciente alimenta automática e permanentemente a sensação de felicidade.

“Sinta-se feliz e serás feliz” nos ensinou Dale Carnegie (1888-1955), escritor americano que se notabilizou por seus cursos de autodesenvolvimento.

Vicente Graceffi, consultor em desenvolvimento pessoal e organizacional. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.