Imprevisibilidade do novo normal exige mais dos modelos de Remuneração

A pandemia transformou o mundo e as relações de trabalho. A imprevisibilidade é a tônica atual, com reuniões virtuais e o tempo que passamos em frente a computadores. Muitos são os efeitos desse cenário no RH e nos modelos de remuneração. O Brasil fechou o ano de 2020 com 13,4 milhões de desempregados. Desemprego alto significa pressão deflacionária na remuneração, intensificando ainda mais o desafio de reter talentos.

A cautela pautou o comportamento das organizações e novos planos foram redefinidos na velocidade em que medidas restritivas impunham o isolamento social e o trabalho remoto. O poder de adaptação ditou quem perderia menos, encontraria o caminho rapidamente e sobreviveria. Com menor movimento econômico, o caixa das empresas retrai, obrigando revisão de metas, projeções e cautela nos investimentos, logo a Remuneração passa a figurar na agenda.

Em 2020, a Mercer conduziu uma série de pesquisas, que apuraram que 68% das empresas tiveram impacto de moderado a alto nos processos e fluxos de trabalho e 81% daquelas que não conseguiram manter operação totalmente remota, adotaram medidas de segurança, como reestruturação para evitar aglomerações, flexibilização nos turnos e alterações nos processos de limpeza.

Para evitar o transporte público, por exemplo, soluções como reembolso de táxi, fretamento de ônibus e até hotel apareceram em 53% das respostas. Embora transformação digital já estivesse no radar, trabalho remoto não era prioridade no pré-pandemia.

O cobiçado home-office como política de RH era tido como sinônimo de qualidade de vida, mas no contexto da pandemia, transformar a casa em trabalho deixou muitos com a impressão de não ter lar, com privacidade e reclusão violados. Isso traz sensações confusas: tédio ou trabalho interminável. A sala de estar virou de sala de reuniões. O quarto das crianças, sala de aula.

Implode o delicado e necessário equilíbrio emocional. O que viria como qualidade de vida se mostrou excesso de telas, reuniões e ansiedade. Descobrimos que as transformações de um mundo em que não se pode circular exigem muito de nós, e dos RH’s, de sua oferta de valor e modelos de remuneração, mais ainda a não-monetária.

A remuneração, financeira mais a não-financeira, começa a ser rediscutida. Iniciando pelo salário, alvo de uma ideia coletiva de crescimento constante, agora mostra sinais de reversão, com aumentos por mérito, que iam de 6% a 8%, caindo para 0,5%, 1% com sorte. Com isso, os modelos de remuneração variável anuais sofrem reavaliação e, alternativas como premiações por projeto, recompensas por entregas em prazos mais curtos e remuneração por interação entram na agenda.

Com a emergência de temas como sustentabilidade e ESG, os incentivos de longo prazo ganham ainda mais espaço, reforçando seu status de alternativas de compensação inteligentes, já que olham para o futuro e trazem possibilidades mais efetivas de mensuração. Não nos esqueçamos de que movimentos como o Black Lives Matter, por exemplo, também impulsionaram fortemente a agenda de diversidade e inclusão.

Cada um de nós se vê diante de um momento de ultra personalização: filmes, músicas, notícias alinhadas à “minha realidade” a um clique; maximizando o “meu poder de escolha”. Essa personalização chegará às relações de trabalho, por meio, inicialmente, dos benefícios flexíveis. O mesmo pacote de remuneração ou oferta de valor não serve para toda a força de trabalho.

Por outro lado, temos o salário intangível (ou emocional), mais evidente no cenário atual. Só o dinheiro deixou de ser suficiente. Num futuro afetado pela pandemia, com consequências para a saúde mental, empresas terão de olhar para o bolso, coração e mente dos colaboradores.

Nos vemos num momento histórico, e os RH’s sabem que os negócios se adaptarão continuamente aos novos tempos e que será fundamental construir um ambiente de trabalho em que o amparo, comunicação e empatia sejam valores percebidos.

O retorno ao trabalho, a flexibilidade, a experiência do profissional, a remuneração, a adaptação à nova realidade são tópicos importantes, que pautam presente e futuro

Novo normal muda modelos de Remuneração?

Por Rafael Ricarte, líder do time de Produtos de Carreira da Mercer Brasil. Administrador de Empresas, com MBA em Economia e pós-graduação em Transformação Digital, Agilidade e Novas Tecnologias.

 

 

 

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